Os netos de Hayek
O novo livro de Naomi Klein tem suscitado reacções díspares na blogosfera. Escusado será dizer que se trata exclusivamente da blogosfera de esquerda, e que a direita, mais entretida em servir “deus, pátria e família” e a correr com chineses da Baixa, nem lhe presta a mínima atenção. Mas mesmo na esquerda ele tem gerado alguma polémica. Há uma esquerda que não está convencida, e que considera que se trata de mais um intelectual a falar para a torre de marfim que nunca chegará a implicar multidões, multitudes, massas, no seu programa/projecto . Outros consideram a tese bastante credível, representando esta uma leitura fiel dos desenvolvimentos recentes do capitalismo.
Gosto da tese de Klein, embora não tenha lido o livro, e gosto da maneira como ela se dirige ao seu público. Quanto à segunda, embora a tese possa não ser directamente comunicável às “massas”, julgo que o esforço da autora em comunicá-la da maneira mais acessível é absolutamente louvável; não está com certeza a falar para a torre de marfim, nem nos surge como mais um intelectual visionário, como se diz no bitoque. Todavia, não rejeito a hipótese de a “doutrina do choque” não ser propriamente uma novidade. Nesta perspectiva, o mais entusiasmante, em minha opinião, nas diversas intervenções em torno dos sistemáticos “choques” do capitalismo actual, é a análise do delinear das estratégias de “choque” pelos think tanks de direita. Aqui é que o monstro surge nos seus contornos mais sinistros. E não se trata de uma teoria da conspiração em larga escala; trata-se apenas de perceber, e reconhecer, que existem grupos que de facto pensam sobre as coisas, de modo a fazê-las acontecer. Importa por conseguinte, não só saber onde encontrá-los e aos seus membros, como possuir estratégias de desmontagem dos seus argumentos.
Por exemplo, em Portugal, país que ainda se encontra nos primórdios da influência dos think tanks de direita, as suas manifestações começam, contudo, a ser visíveis. Nesta perspectiva, não é apenas que alguns indivíduos tenham opiniões de direita, nem sequer que preparem encontros secretos, à maneira das sociedades de iniciados, para planearem a dominação do mundo. Estes grupos não são secretos, não obstante as suas verdadeiras orientações e intenções o serem. Aliás, vivem justamente da publicidade e da maior ou menor visibilidade que conseguem angariar. Mas o que os diferencia de múltiplas tentativas desgarradas que encontram os seus pontos comuns na partilha de ideias, é o seu carácter preparatório, ou seja, a sua vertente propedêutica, em jeito de escolas ideológicas onde se prepara uma elite formatada segundo um dado ideário. Talvez quanto a este aspecto não difiram muito dos processos de arregimentação e endoutrinação partidárias. Possuem, contudo, uma diferença fundamental, que é própria dos think tanks: estão geralmente ancorados em universidades ou em instituições de pesquisa e investigação. Regressando a Portugal, há um tink thank em formação que é necessário ter em atenção e que, sugiro, irá ter influência durável no Portugal político, e não só, dos tempos vindouros. Refiro-me à Universidade Católica e em particular ao seu curso de ciência política. Quem fizer o exercício, aperceber-se-á, de que muitos dos que vêm grangeando notoriedade no espaço público enquanto porta-vozes da nova direita, tiveram o seu berço na Católica, ou no Instituto de Estudos Políticos, ou em cursos que este último de alguma forma intersecta. Dois nomes aparecem com uma cadência quase inevitável, cujo eco das suas ideias e intervenções pode facilmente ser detectado nas vozes da nova direita portuguesa; são eles, João Carlos Espada e José Manuel Fernandes. Registe-se que, a par destes nomes surgem muitos outros, porventura mais notáveis, mas que não possuem o mesmo carácter interventivo destes dois. Em conclusão, a Universidade Católica Portuguesa alberga, portanto, o maior e talvez mais influente think tank conservador que existe actualmente em Portugal. Seguir as genealogias de alguns dos seus mestres e discípulos é perceber exactamente donde vêm e quais os seus objectivos.
Por exemplo, em Portugal, país que ainda se encontra nos primórdios da influência dos think tanks de direita, as suas manifestações começam, contudo, a ser visíveis. Nesta perspectiva, não é apenas que alguns indivíduos tenham opiniões de direita, nem sequer que preparem encontros secretos, à maneira das sociedades de iniciados, para planearem a dominação do mundo. Estes grupos não são secretos, não obstante as suas verdadeiras orientações e intenções o serem. Aliás, vivem justamente da publicidade e da maior ou menor visibilidade que conseguem angariar. Mas o que os diferencia de múltiplas tentativas desgarradas que encontram os seus pontos comuns na partilha de ideias, é o seu carácter preparatório, ou seja, a sua vertente propedêutica, em jeito de escolas ideológicas onde se prepara uma elite formatada segundo um dado ideário. Talvez quanto a este aspecto não difiram muito dos processos de arregimentação e endoutrinação partidárias. Possuem, contudo, uma diferença fundamental, que é própria dos think tanks: estão geralmente ancorados em universidades ou em instituições de pesquisa e investigação. Regressando a Portugal, há um tink thank em formação que é necessário ter em atenção e que, sugiro, irá ter influência durável no Portugal político, e não só, dos tempos vindouros. Refiro-me à Universidade Católica e em particular ao seu curso de ciência política. Quem fizer o exercício, aperceber-se-á, de que muitos dos que vêm grangeando notoriedade no espaço público enquanto porta-vozes da nova direita, tiveram o seu berço na Católica, ou no Instituto de Estudos Políticos, ou em cursos que este último de alguma forma intersecta. Dois nomes aparecem com uma cadência quase inevitável, cujo eco das suas ideias e intervenções pode facilmente ser detectado nas vozes da nova direita portuguesa; são eles, João Carlos Espada e José Manuel Fernandes. Registe-se que, a par destes nomes surgem muitos outros, porventura mais notáveis, mas que não possuem o mesmo carácter interventivo destes dois. Em conclusão, a Universidade Católica Portuguesa alberga, portanto, o maior e talvez mais influente think tank conservador que existe actualmente em Portugal. Seguir as genealogias de alguns dos seus mestres e discípulos é perceber exactamente donde vêm e quais os seus objectivos.
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