Thursday, September 13, 2007

Gli Cinesi! Gli Cinesi


Há no discurso de MJNPinto alçapões e labirintos, tão imprevisíveis como insinuantes, e tão subtis quanto dignos de preocupação. Dito assim, esta mulher deve ser um vulcão. Mas a questão do perigo amarelo não é nova; e talvez se tenha imiscuido de formas insuspeitas no espírito do bom cristão conservador. Veja-se por exemplo João Jardim, a correr com os chineses da sua ilha, cravando-lhes o libelo de concorrência desleal e de posse abusiva das riquezas da nação. Na altura, as autoridades da república responderam com um sereno encolher de ombros, isso são lá coisas do jogral da Madeira, e depois passa-lhe, pareciam dizer enquanto engoliam porcinamente um prato de caracóis. Houve na altura um certo mal-estar, um je ne sais quoi, de difícil localização, mas que se pressentia ir fazer carreira.
Agora foi a vez de MJNPinto, ecoando as verberações do vergel madeirense, socorrer-se do perigo chinês para acertar contas com o planeamento urbano. Ora já Pasolini tinha tido o mesmo pressentimento quando pôs Tótó a surprender-se com um esguaniço de mulher que gritava: gli cinesi, gli cinesi!, nessa imorredoira brincadeira política intitulada uccellacci e uccellini. E é disso mesmo que se trata neste caso, de uccellacci e uccellini, ou traduzido com alguma liberdade, passarinhos e passarões. A ideia peregrina segundo a qual são os chineses que estão a matar o comércio tradicional da Baixa, é uma ideia de passarão. Embora, no artigo de hoje do DN, Nogueira Pinto até confesse que há mão das grandes superfícies comerciais no descalabro lisboeta, parece chegar, a contrario sensu, à conclusão de que, afinal, “são os chineses”. Ouvem-se portanto, mais uma vez, os guinchos “gli chinese, gli chinese”. E se Nogueira Pinto até não dispensa fazer compras nas malfadadas lojas de chineses - para equilibrar o orçamento, diz ela -, é sempre com a expectativa de ser servida por um trejeito “sorridente e enigmático”. O sorridente, é fácil de perceber. Já Hergé põe os chineses sempre a sorrir no velhinho Tintim na China – o sorriso amarelo. O enigmático é mais...enigmático. A menos que Nogueira Pinto esteja à espera de ser arrebanhada para as vascas da revolução cultural e que lhe salte um chinês de trás do balcão, em pose de herói de shaulin, brandindo um infernal Livrinho Vermelho. Mais uma vez, o perigo espreita: gli cinesi, gli cinesi!

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