A brincar, a brincar...
O Daniel publicou no seu blog a fotografia do Che com bigodes de Hitler que faz a capa da revista Atlântico. Não gosto de caricaturistas de merda que só caricaturam quem eles não gostam. Goebbels também gostava muito de caricaturas de judeus; não gostava nada é que estes o caricaturassem.
A história da caricatura não é inocente. E dificilmente se pode dizer que quando se pintam os bigodes do Hitler em alguém se está apenas a brincar. Não se está; e não vale a pena descontextualizar, porque sabemos bem que os bigodes do Hitler oportunamente colocados no Che se inserem na mesma catalinária de comparações absurdas entre Sadam e Hitler e ultimamente Ahmadinejad. No Atlântico, suspeito, já não se faria a mesma transmudação com a cara de Pinochet, ou de Franco, ou já agora de Salazar. Os dois últimos, esses sabemos nós, foram de facto aliados do Terceiro Reich. Quanto ao primeiro, no Atlântico, conjecturo, o ditador não merece a bigodaça porque estava apenas a libertar o seu país da “ideologio sino-soviética grassante na sua pátria”, como ele próprio diria durante o julgamento pelo Juíz Baltasar Garçon. Mesmo que para isso tivesse sido preciso limpar o sebo a mais de 100.000. Ainda estamos longe de Hitler e do Anshluss, é verdade que sim. Porém em Pinochet, curiosamente, o esforço caricatural é alijado pela presença, já de si espantosa, de tão semelhante buço.
Num mundo ideal, brincar ao design com as caras, com os símbolos, não tem qualquer importância. É irreverência, dessacralização; tudo coisas boas que fortificam a liberdade e a consciência democrática. Não vivemos num mundo ideal. O Atlântico é a prova cabal disso mesmo. Sendo assim, pintar uns bigodes de Hitler em Che Guevara deixando todos os outros isentos da máscara, tem um significado preciso. Ficamos à espera da próxima irreverência do Atlântico quando pintar uns cornos em Salazar ou acentuar o bigode de Pinochet. Podemos é esperar sentados.
Os bigodes da revista Atlântico aparecem na sequência da reportagem que saiu na Veja sobre os podres de Guevara. Não tenho o link para o artigo, mas podem consultar o que diz o Observatório da Imprensa Brasileiro sobre a dita reportagem.
A história da caricatura não é inocente. E dificilmente se pode dizer que quando se pintam os bigodes do Hitler em alguém se está apenas a brincar. Não se está; e não vale a pena descontextualizar, porque sabemos bem que os bigodes do Hitler oportunamente colocados no Che se inserem na mesma catalinária de comparações absurdas entre Sadam e Hitler e ultimamente Ahmadinejad. No Atlântico, suspeito, já não se faria a mesma transmudação com a cara de Pinochet, ou de Franco, ou já agora de Salazar. Os dois últimos, esses sabemos nós, foram de facto aliados do Terceiro Reich. Quanto ao primeiro, no Atlântico, conjecturo, o ditador não merece a bigodaça porque estava apenas a libertar o seu país da “ideologio sino-soviética grassante na sua pátria”, como ele próprio diria durante o julgamento pelo Juíz Baltasar Garçon. Mesmo que para isso tivesse sido preciso limpar o sebo a mais de 100.000. Ainda estamos longe de Hitler e do Anshluss, é verdade que sim. Porém em Pinochet, curiosamente, o esforço caricatural é alijado pela presença, já de si espantosa, de tão semelhante buço.
Num mundo ideal, brincar ao design com as caras, com os símbolos, não tem qualquer importância. É irreverência, dessacralização; tudo coisas boas que fortificam a liberdade e a consciência democrática. Não vivemos num mundo ideal. O Atlântico é a prova cabal disso mesmo. Sendo assim, pintar uns bigodes de Hitler em Che Guevara deixando todos os outros isentos da máscara, tem um significado preciso. Ficamos à espera da próxima irreverência do Atlântico quando pintar uns cornos em Salazar ou acentuar o bigode de Pinochet. Podemos é esperar sentados.
Os bigodes da revista Atlântico aparecem na sequência da reportagem que saiu na Veja sobre os podres de Guevara. Não tenho o link para o artigo, mas podem consultar o que diz o Observatório da Imprensa Brasileiro sobre a dita reportagem.
1 Comments:
As reacções negativas à capa da última Atlântico são bem interessantes. Elas pressupõem todas que Ernesto Guevara e Hitler são incomparáveis, e que é a pior das desfaçatezes – uma desfaçatez, é claro, politicamente interessada – compará-los. Ora, é claro que, a haver encarnação do mal absoluto na história (falemos assim para simplificar), Hitler é um dos melhores candidatos ao lugar, e o “Che” ocupa uma posição, no mínimo, secundaríssima, tão secundária que só nos lembramos dele pelo entusiasmo com que boa parte da esquerda adolescente e ritualmente o festeja. Mas a questão da capa (e do artigo de Rui Ramos) não era essa. Era, como o artigo de Rui Ramos explica bem, o desprezo pelos seres humanos que as ideologias totalitárias, de que o nazismo é paradigmático, permitem e legitimam. E aí, o “Che” é um exemplo tão bom como qualquer outro. A capa e o artigo lembravam isso. As reacções, aparentemente, confirmam que é preciso lembrá-lo.
Paulo Tunhas
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