Friday, October 05, 2007

Cara de pau


E continuarão as oposições silenciosas quando se agrava a tensão entre a Igreja Católica (mas não só) e o Governo a propósito da assistência religiosa a doentes crentes em hospitais públicos? Será que pensam que o tema é entre alguns padres e o Governo e não entendem que está em causa a diferença entre um Estado laico, logo independente das religiões, e um Estado jacobino, inimigo das crenças religiosas?" (JMF, editorial do Público)

O editorial de JMF leva muito a sério o estilo FOX News. Aliás, não fosse JMF escrever um pouco acima da qualidade habitual da FOX e teria este todos os predicados para ser um seu fiel trabalhador. É claro que um jornalista da FOX nunca é apenas um jornalista; é mais qualquer coisa: um apaniguado, um comprometido do regime FOX, um marçano, etc. O estilo FOX não funciona para noticiar; o selo FOX é o da manipulação. Donde, temos a FOX mais elaborada, mais abrilhantada, mais cultivada, mas temos a nossa FOX. Ela dá pelo nome de jornal Público. Fazendo jus à capacidade manipulatória da FOX, JMF vem verter umas lágrimas de solidariedade pelos capelães em risco de perder o emprego. Estranha atitude de um liberal que vê em qualquer intromissão do Estado nada menos do que as manhas do mafarrico. Talvez porque estes sejam capelães e venham com a chancela do divino, sejam imunes às trevas da praga estatal. Talvez seja por isso que quando se ameaça tocar nos interesses da Santa Madre Igreja, mesmo que provenham estes, não do óbulo sacral, mas da teta estatal, o liberal assanhado se assanha ainda mais contra o fim das prerrogativas de um bando de madraços. E vai de gritar: jacobinos! Pois para JMF um Estado laico, preservado segundo a sua tanto caricata como porosa ideia de laicismo, tem de ter 193 capelães a prestarem sagradas exéquias. Nos hospitais militares só lá estão 70 para dar a extremunção aos pacientes crentes (católicos). Nos hospitais públicos encontram-se os restantes. Gasto absurdo do erário público? Não, para JMF, este deve ser o único serviço que o mercado não pode cabalmente suprir.
Mas a piéce de resistence é quando JMF, moralisticamente, se insurge contra a cegueira jacobina do governo. Então vocifera, estamos perante “um estado jacobino inimigo das crenças religiosas”. Note-se o plural, enfático e patético, porque se o caso é o de existirem 193 capelães, católicos, como não podia deixar de ser, então não representam “as crenças”, mas sim um monopólio da igreja católica. Que isto seja uma excrescência do Estado Novo que não foi devidamente decepada, só mostra que a medida é tardia.
Finalmente, assiste-se uma medida tendencialmente laica num Estado que continua refém da beatice.

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