"Conferencismo"
A maior parte das conferências, seminários, mesas redondas, jantares quadrados, discussões atordoadoras e sonos perdidos, são um elogio ao desperdício. Lá andam uns nababos a passearem-se pelos melhores (ou razoaveizinhos) hotéis por essa europa afora a dizer umas tretas tonitruantes outras apenas enfadonhas, na sua maioria simplesmente repetitivas e por isso mesmo (já) inaudíveis. O Gandhi diria: I will tell you once more what I have told you many times before – e por aí se poderia resumir todas as prestações académicas, abalizadas de gestores da coisa pública e doutras coisas menos públicas; tudo bem encadernado em fatiotas de ir à missa e em powerpoints de fim-de-estação. A isto se deu o pomposo nome de “workshops”. Como vivemos numa comunidade que se estende quase até aos Urais, já não dá para nos encontrarmos todos à esquina a tomar um café e a mandar uns bitates para o ar. Não. É preciso marcar hotéis, organisar conferências, “chamar por papers” e atafulhar umas tantas salas de sabedoria enlatada que se distribui com o à-vontade de um desenlace novelesco.
E para que é que isto serve? Para empregar académicos ou projectos de académicos ou académicos penhorados que o mercado de trabalho teima em rejeitar. É uma indústria como outra qualquer que cria a ilusão de que existem miríadas de ideias a circular – quando na realidade se serve as mais das vezes os mesmos pratos requentados -, de que a actividade científica precisa de fora, de espaços internacionais de discusão, onde se nutrir. Mas justamente, se a refeição já tem vários anos, onde subsistem ainda os nutrientes? A sensação de tempo perdido com que se sai destas coisas, o sentimento letárgico que nos invade e a interrogação que fica a pairar sobre as nossas cabeças anestesiadas tem alguma coisa a ver com aquelas noites mal dormidas em que acabamos por descabeçar num sono entropecedor que se agarra teimosamente ao início da manhã.
E finalmente chega o momento da pergunta sacramental: e se o dinheiro que se gasta com esta transumância de expertise, de empilhamento de papel, de burocracia avulsa, de arrolamento, do compendiar, do publicar, do propagandear, fosse simplesmente investido directamente nos problemas que tanta sageza ociosa discute até à exaustão?
E para que é que isto serve? Para empregar académicos ou projectos de académicos ou académicos penhorados que o mercado de trabalho teima em rejeitar. É uma indústria como outra qualquer que cria a ilusão de que existem miríadas de ideias a circular – quando na realidade se serve as mais das vezes os mesmos pratos requentados -, de que a actividade científica precisa de fora, de espaços internacionais de discusão, onde se nutrir. Mas justamente, se a refeição já tem vários anos, onde subsistem ainda os nutrientes? A sensação de tempo perdido com que se sai destas coisas, o sentimento letárgico que nos invade e a interrogação que fica a pairar sobre as nossas cabeças anestesiadas tem alguma coisa a ver com aquelas noites mal dormidas em que acabamos por descabeçar num sono entropecedor que se agarra teimosamente ao início da manhã.
E finalmente chega o momento da pergunta sacramental: e se o dinheiro que se gasta com esta transumância de expertise, de empilhamento de papel, de burocracia avulsa, de arrolamento, do compendiar, do publicar, do propagandear, fosse simplesmente investido directamente nos problemas que tanta sageza ociosa discute até à exaustão?
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