Thursday, June 07, 2007

J'ACCUSE



En portant ces accusations, je n'ignore pas que je me mets sous le coup des articles 30 et 31 de la loi sur la presse du 29 juillet 1881, qui punit les délits de diffamation. Et c'est volontairement que je m'expose.

Considero o post do Bruno sobre o intelectual militante se não injusto, certamente impreciso. A oposição entre o intelectual que faz política e o que usa a sua posição social para fazer, o quê, senão política?, e que surge representada pelo par Rimbaud/Zola, afigura-se não apenas errónea como devedora de uma concepção de política que pode resvalar perigosamente para o mais puro e absurdo niilismo.
Zola não esteve sentado numa cadeira a escrever manifestos como quem escreve num blogue. A intervenção de Zola no caso Dreyfus é aliás tanto mais corajosa na medida em que o J’accuse se dirige ao presidente da França. Zola toma partido por um grupo estigmatizado quando as mais macabras acusações sobre ele recaíam. É difícil negligenciar o facto de os judeus, o alvo de todo o processo Dreyfus, terem passado a contar com bem mais defensores após a acusação pública de Zola; porventura aquilo que fez verdadeiramente pender os pratos da balança para os dreyfusistas. O que temos que ter em conta é que Zola aparentemente tinha muito pouco a ganhar e muito a perder. O risco que Zola correu para resgatar uma verdade, que ele tinha concebido como tal, às vascas da conspiração e do antisemitismo é tanto mais interessante quanto Zola não tinha provas do que afirmava – a acusação é mero empenho pessoal.
Um cínico como Proust pode brincar em torno do caso Dreyfus fazendo reaparecer através do palco caleidoscópico dos salões parisienses as questiúnculas e facções que há época se digladiavam. Mas convém não esquecer que Charlus, o maior personagem da Recherche, é um convicto admirador dos alemães e considera que a traição à França não pode ser julgada pela mesma bitola das causas cívicas quando esta se cruza com a força das genealogias.

E Rimbaud? É verdade que um adolescente que pintava o cabelo de verde e se empoleirava nos telhados das igrejas era um tipo com tomates. O Sr. de Charlus diria, eventualmente, um efebo encantador com as maneiras de um demónio. Rimbaud é isto: a expressão do excesso, do inconformismo, da recusa à adesão, seja ela qual for. Rimbaud é o homem que faz tudo até aos 20 anos retirando-se de cena como uma velha diva do palco. Algo que seria glosado pela geração punk no seu live fast and die young. O adolescente cujos “nervos se punham à caça” e para quem a vida era pequena para albergar o desejo de viver. É este adolescente que se junta à comuna de Paris porque está contra a “ordem”; porque a sociedade burguesa não possui sangue suficiente para inundar a sua ânsia de uma comunhão activa com a vida e pelas coisas da vida. O mesmo grito que seria erguido lá pelas mesmas bandas mas desta feita por alturas de Maio...de 68. Um sob a égide do sangue francês outro sob a da imaginação. Lembrar no entanto que quer Dreyfus quer a comuna são manifestações nacionalistas que apelam à união contra um inimigo – no primeiro caso os judeus, como ente infiltrado no próprio âmago da nação; no segundo, a Prússia e a afronta feita à França. Afronta essa que ensombra grande parte do caso Dreyfus.
Correndo o risco de resumir as duas posturas a uma fórmula, diria que a bandeira de Rimbaud é a do anarquismo; a bandeira de Zola é a da justiça. Podem elas coincidir?


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