O eclipse do intelectual militante
Da lista que o Nuno refere no post abaixo sobre o ranking dos intelectuais públicos - uma formulação redundante, uma vez que o intelectual é, por definição, público- o que salta à vista é justamente o coroar de uma determinada concepção do intelectual. Os textos de reflexão sobre os intelectuais são normalmente acompanhados pela invocação de dois exemplos, que balizam o modo como o intelectual moderno é concebido: a defesa kantiana do uso público da razão, e o exemplo da intervenção de Zola no caso Dreyfus - o "J'accuse". Ou seja, o intelectual é alguém que põe ao serviço de uma causa pública o prestígio adquirido na profissão científica ou literária. O que fica de fora são os intelectuais para quem pensamento e acção se conjugam, ou seja, os que fazem política e não se limitam a escrever sobre ela. É por isso sintomático que Zola seja um exemplo recorrente em detrimentos de Rimbaud, o poeta que participou na comuna de Paris, ou seja, que se envolveu num movimento revolucionário, em vez de escrever de modo distanciado sobre os assuntos da época. Exemplos maiores deste tipo de intelectual seriam Marx e Lenine, em que escrita e acção política são indissociáveis, de tal modo a doutrina orienta a acção, e a militância está inscrita na obra. Por isso quem acha que a lista da Prospect/Foreign Policy é de esquerda porque o Chomsky aparece em primeiro lugar, desengane-se. A ordem capitalo-parlamentarista tem um lugar para os intelectuais. É no ranking.
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