Thursday, May 31, 2007

Proust


O que me parece interessante na Recherche de Proust é como é que um livro gigantesco é tão fácil de ler. Há outros exemplos que me ocorrem sem grande precisão nem acutilância anamnésica e que são verdadeiros tormentos. Calhamaços de mais de 1000 páginas que custam mais a engolir do que um discurso de Marques Mendes. A versão canónica que nos ensina que ler a Recherche é um martírio não resiste à prova da realidade, do prazer inigualável que é deslizar pelas metáforas e figuras de estilo proustianas; deixarmo-nos levar, como pétalas varridas por um suão leve e nobre, pelas personagens e suas idiossincrasias; e sobretudo sermos conduzidos pela mão de Marcel ao mais fundo (que é talvez também o mais superficial) das suas elocubrações. Só Proust podia escrever um livro desta dimensão – volumétrica e literária – que se lê de uma penada.

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