Tuesday, May 29, 2007

A inteligência e a necessidade

Dizia um patrão, no Prós & Contras de hoje, defendendo a redução dos feriados e a importância de regras de despedimento mais arbitrárias, que "quem não muda por inteligência, muda por necessidade". Necessidade, claro, do mercado e mais concretamente do mercado global. Que esta necessidade seja agora afirmada muito mais abertamente pelos corifeus do capital do que o era há trinta ou quarenta anos, não é apenas um efeito das transformações da economia. A existência do bloco comunista, e a guerra ideológica que se travava no ocidente contra o comunismo, obrigava os defensores do capitalismo a argumentar a favor da superioridade deste com os maiores níveis de vida, ou seja, com os níveis de consumo e conforto, das sociedades capitalistas. Hoje, em que julgam não vislumbrar alternativa à ordem político-económica vigente, já não há necessidade de prometer bem-estar. Pelo contrário, anunciam que acabou o período de emprego quase garantido, e de gratificação pelo consumo. Entrámos na era da insegurança social. Na época dos salários congelados, do trabalho até à velhice quase morte, do trabalho até mais tarde, do endividamento, do recibo verde que contrato não pode ser que é mau para o défice. E também da privatização de tudo, da saúde, do ensino, da cultura, do desporto. Este novo realismo é obviamente o resultado de um reequilíbrio das forças sociais a favor do capital. Era bom que então as pessoas se começassem a perguntar porque raio é que o capitalismo vale a pena?
Tenho esperança que isso leve as pessoas (ou algumas pessoas) a fazerem algumas perguntas de algibeira. A perceberem o escândalo que é, por exemplo, alguém ser dono de algo que estava cá muito antes do seu nascimento e continuará a existir muito depois dele morrer. Chama-se a isto propriedade da terra. Ou o escândalo que é alguém depender de outro, do julgamento e da conveniência de outro, para sobreviver. Chama-se a isto trabalho assalariado. É que, cada vez mais, um número cada vez maior de pessoas não tem nada a perder a não ser as esperanças que já não se vão cumprir.

1 Comments:

Blogger Nuno Castro said...

Este gajo é mais anarquista do que o Proud(home)!!

12:21 AM  

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