Monday, May 28, 2007

O Recruta






Ultimamente surgiram nos dois jornais de referência nacional um conjunto de nomes cuja referência (ainda?) não é perceptível. Puro erro: estes nomes, embora para muitos inauditos, são fáceis de referenciar. A experiência mostra que quando introduzidos no google nos conduzem invariavelmente a um blogue. Foi assim que entretido a ler um artigo de opinião de um desses ilustres desconhecidos que dá pelo nome de Alberto Gonçalves, e não encontrando referência que me parecesse consistente, nem em escol partidário, nem nos arcanos da literatura nacional, nem tão-pouco na nobre profissão de jornalista, googlei o abstruso nome e depressa fui levado ao inimitável “Homem a dias”. Comecei então a cogitar que o universo da blogosfera gerou uma constelação de futuras promessas literárias. Puro erro: a selecção que é feita desta rapaziada que vem caindo avonde nas páginas da nossa imprensa pauta-se por critérios bem definidos e não se deixa atrapalhar por simples atavismos estéticos. Assim, o nosso agora conhecido e compincha Alberto Gonçalves, retirado da lonjura a que fora remetido pela fotografia que lhe calhou em sorte na página do DN (e que é reproduzida acima), começou lentamente a ganhar contornos, mormente na sua própria constelação ideológica, inserida que está numa galáxia de venerandos nomes. Em 2003 escrevia o nosso homem a dias que, farto da faxina a que a sociologia – curso que ele amaldiçoa por ser eivado de esquerdismos e saudosismos marxistas - o obrigava descobriu o Toqueville pela mão da nossa esperança do liberalismo de urinol, o ainda mais venerando João Pereira Coitadinho. Aqui já estamos de sobreaviso e começamos a aprofundar o nosso entendimento sobre as razões pelas quais teria o bom do Alberto sido ceifado na colheita cultural desse pai dos povos ocidentais que dá pelo nome de Luís Delgado. Mas não vos atormenteis homens de pouca fé, pois o Alberto ao explicar a sua inclinação autobiográfica para o Toqueville lá diz entrelinhas que costumava andar em romarias com os seus - sem dúvida que igualmente venerandos -, pais pelos comícios do Sá Carneiro. Um caso portanto de socialização bem sucedida. Como isso não bastasse, o Alberto odiou os colegas esquerdalhos da Universidade do Porto, invectivou professores porque o obrigaram a engolir coisas nauseabundas como o Wallerstein e o Bourdieu, abjurou as colegas que para além de esquerdalhas eram todas feias, mas finalmente, ó almas, reencontrou-se com a paz e com a sua mais íntima natureza, no regaço toqueviliano. Todavia, ficamos confundidos com o facto de o Alberto, que odeia a volátil sociologia de esquerda, não se fazer rogado em colocar a sua profissão apensa ao seu nome não vá a gente pensar que ele é alguém desautorizado para o dislate e a bujarda.
Esta biografia nem é inaudita e pode ser identificada em variadíssimos outros casos que, invariavelmente, têm sido recrutados dessa constelação em formação constituída pela novel direita. Há certas características que podem ser facilmente reconhecidas nesta nova clique: são de direita conservadora, são muito irreverentes e ainda gostam mais de o sublinhar, e fazem os trabalhinhos de casa aos já cansados e encanecidos Luís Delgado e José Manuel Fernandes. Suponho que é isto que eles designam por pluralismo democrático – muitas caras diferentes todas arregimentadas ao mesmo covil do conservadorismo e da pusilanimidade.


Pois é malta se querem saber donde veio esta cáfila é só googlar e com certeza que há-de dar a um blogue perto de si. Mas da nova direita, pois então.
A foto é cortesia do Kaos.

2 Comments:

Blogger brunopeixe said...

Fui ver o tal blogue do homem-a-dias. Quando um gajo acha que já tinha visto tudo em matéria de abjecção ideológica, o pereira coutinho, o rui ramos, o luciano amaral e companhia, lá desenterraste tu mais um verme. É por estas e por outras que o liberalismo é uma idiotice. A multiplicação de opiniões não é uma coisa boa em si. Este gonçalves, por exemplo, era um bem calá-lo, não o deixar manifestar-se, pois trata-se de um racista anti-árabe. Enfim, hoje é anti-árabe. Se fosse na europa dos anos 30 seria anti-semita. Está sempre onde estão os poderosos. O que vale é que os vermes não têm espinha.

9:23 PM  
Blogger Nuno Castro said...

não fui eu, foi o DN que o desenterrou e agora é gramá-lo...

10:33 PM  

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home