Expirar...lentamente
Cheguei sôfrego ao outro lado da plataforma, onde me acompanhavam todas as noções que, normalmente, guardo no bolso do casaco, apenas para ocasiões onde tudo pode, ou deve, precipitar-se. Nessas ocasiões: é quando sinto o coldre gelado da pistola, bem no fundo do bolso do casaco, carregado de noções quase tão mortíferas quanto a peste ou a tortura ou a vantagem de morrer frente a um pelotão de fuzilamento: rápido, eficiente, exemplar. Posso sempre atirar-te com noções para cima; e que se te cravem na goela como bicos esfomeados de pardais é coisa que não me impressiona quando as uso. Amor, por exemplo. É de uma escatologia pura – a lembrança, o puro reconhecimento desta palavra, conceito, acção, futuro, desejo; mas nunca, por nunca, o que se pode alcançar quando se tornam as palavras demasiado violentas, ou viciosas, ou cediças – como a maldição, o despojo, a caricatura de um sentimento – os sentimentos!: essas belas naturezas curvilíneas, que se sufocam, pois então, bem no contacto com a terra, com o seu centro traumático, esse da terra, que não deixa espaço para vislumbrar uma nova palavra, um novo idioma, uma nova moral, uma nova conquista. Hoje, escuridão.
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