Clubbing
Leio este artigo, com o link lá em cima, e concordo com tudo o que ele diz. As justificações evocadas por alguns dos defensores do modo de vida dos clubes assemelham-se às justificações dos hooligans quando pretendem convencer-nos que aquilo é mais forte do que eles. E se calhar até é. O que agora se chama clubbing, por todo o sítio chique, inclui desde o copo de martini num bar da moda, logo bastante frequentado, até às discotecas; mas não os night clubs que são lugar de peçonha e de excrecências. A clubbing estão associados uma série de outros termos, como sejam: one night standing, sharking, doping, getting high, stylish, party, etc. É um esperanto universal (passo o pleonasmo, mas às vezes também faz falta) que a juventude adoptou e que a não-juventude que frequenta antros afins procura plasmar na sua gíria de indígenas a reclamar territórios. Existe uma lógica interna quer a estes termos, quer a às acções que lhes correspondem, espécie de adequação lógica Hegeliana entre o mundo da empiria e o mundo dos conceitos. Por exemplo, num club, numa disco, o one night stand é a única currency, e percebe-se porquê: com uma música ensurdecedora a estalar aos ouvidos como se levássemos reguadas da professora primária nos tímpanos (e eu levei), a impossibilidade de comunicar algo que não sejam grunhidos ou vagidos de mongolóide com um ataque de diarreia aproxima-se de zero. Daí que as conversas não se desloquem muito para além da ilharga do onde compraste essas calças e do vou buscar preservativos. Não há nada de bárbaro nisto, mas quem não souber os termos desde código simplificado, está f... Até porque existe uma relação necessária entre acasalar e clubes. Nos clubes, ou no clubbing – olha este fim de semana foi clubbing, que é clubar, um verbo portanto – faz-se sharking, ou seja anda-se a tubaruar, para ajudar a tal empresa convém estar-se alto, seja com droga ou com álcool, mas não de virtude, e sobretudo, se se quer chamar a atenção e não ser confundido com o poste que segura as colunas de som, é bom que estejas com estilo, camisas abertas até ao umbigo e muita listas fosforescente, para forçar o contraste que é produzido pelas luzes em sequência – uma abrir outra a fechar – nisso semelhando-se com as bocas que por lá andam: abrir e fechar, abrir e fechar, mas nada de lá sai. Abrir e fechar são a mínima sequência que se usa em clubes, também nisso recreando uma outra analogia, a dos neurónios e dos sinais que enviam que se comportam como lógicas computacionais de 1 e 0. Este sistema dualístico surge na continuidade de milhares de anos de evolução da espécie humana. E se outras espécies desenvolveram farta penugem para engrenar no acasalamento e outros divertem-se a catar piolho das cerdas duras e descompostas, o humano inventou aquários onde as pessoas podem espasmodicamente mostrar os seus corpos em contorsões e convulsões, também elas obedecendo a uma sequência predeterminada pela batida do momento. Sendo que é isto que nos leva ao acasalamento apresentamo-nos como o animal dançarino por excelência, no que destronámos algumas categorias de perus que nem sequer conseguem emborcar um copo de tinto, a não ser no natal, para o qual confeccionámos a designação de peru bêbado. E não por acaso, dizemos (ou diziamos) de alguém que víssemos sair de um clube às 5 horas da madrugada, olha aquele vem bêbado que nem um peru. E assim a perua, que também encontramos na pista de dança, eh que gandas peruas!, e que espera encontrar o tal bêbado que nem peru para eventualmente grunhir e avaliar as possibilidades de acasalamento. È claro que o grunhido é uma condição necessária e que quando este pacto de assintonia se quebra as possibilidades reduzem-se vertiginosamente. A evitar, dizer algo que se assemelhe a uma ideia. Tudo isto – os nomes de animais, as matting dances, as roupagens qual penas de catatua – nem estaria mal se ao menos garantisse o resultado pretendido, a saber, o acasalamento. Mas que dizer de sair de um clube às sete da manhã em que a única coisa que se conseguiu foi lambuzar o gargalo de uma garrafa de vodka?
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