Friday, August 17, 2007

Lisboa esta morta e ninguem a enterrou


E dificil imaginar Praga sob o dominio do comunismo. Talvez nenhuma cidade, ou sociedade, pudesse ser tao violada na sua natureza primordial como Praga. Em Praga so e possivel imaginar a primavera: a comocao da libertacao, mas envolta no mais sedoso veludo. So aqui e que a revolucao podia ser tecida em velvet.
Nem a Praga de Kafka e possivel conceber perante a euforia, a monumentalidade e a opulencia da Praga imperial, continuacao da ambicao austriaca e do seu esplendor. A Republica Checa chamam-lhe o pais Schveik, em homenagem ao soldado mais famoso da historia da literatura. Traduza-se livremente pelo pais do chico-espertismo. Nao, Portugal esta bem atras na rota do chico-espertismo. Ficou a frente na rota das indias, mas so com alguma dose de poesia e de lirismo e que se pode considerar Portugal um pais de chicos-espertos. Um pais de chicos, e fechem a janela.
No roteiro das cidades a serem visitadas, Lisboa nem sequer tem credenciais. Na mente provinciana de uma auitoridade portuguesa, em tempos proferindo a seguinte rotunda frase - Lisboa cada vez e mais procurada. Esta na moda - so ai e que Lisboa tem cabimento no roteiro das cidades europeias. E so isso exemplifica a cegueira provinciana com que os nossos lideres - bem hajam - se imaginam no centro do mundo. Mas a dura verdade e que para alem de uns imigrantes mortos de fome, ninguem procura Lisboa.
Quando comparada com Praga as razoes tornam-se obvias. Lisboa nao atrai cultura; nao tem locais de divertimento; nao oferece qualidade e, mais grave, tornou-se eventualmente a cidade europeia cujo centro esta mais deserto. So isso ja e sinal bastante de mingua de cosmopolitanismo. O provincianismo costumeira afirma: vejam os chineses do Martim Moniz ! Ponham os olhos nos africanos do Rossio! E imagina-se como lugar de partida e chegada de caravelas, por mares ainda pouco navegados, e como promessas de ilha dos amores \. Mas nem amores, nem limoes virgineas tetas, nem nenhum cantinho das delicias - nada. Deserto a perder de vista. Se a melancolia vendesse, Lisboa estaria em todos os guias turisticos; com neons e sinais sonoros. A melancolia nao vende. E talvez assim seja melhor. Existe ainda um lugar que inspira solidao. O cabo do mundo ja nao tem promessas de fins do mundo. Apenas acaba; e quem quiser morrer em paz que para la rume.

(isto foi sem acentos. pedimos por isso as nossas desculpas. E quao penhorados estamos pela vossa compreensao! Em sinal de agradecimento, termino incitando-os a ler Hrabal. Se ainda nao o fizeram, vao a correr a primeira livraria e comprem (nao o arrabalde). Kafka morreu, mas a literatura checa esta bem viva)

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