Thursday, September 27, 2007

A lupa jornalística


A filha do casal McCann reapareceu em Marrocos. Se não fosse tão trágico, teria o seu quê de humorístico. Mas é trágico, e por isso não dá vontade de rir. A fotografia acima, como não é difícil de constatar, não deixa margem para dúvidas de que se trata da menina inglesa. Uma Marroquina loira não é natural; ainda para mais quando vai esta escanchada nas costas de uma indígena. Aliás, a geografia dos avistamentos de Maddie é reveladora da geografia mental racializante. As hipóteses surgidas apontam as mais das vezes para o Norte de África. Embora não seja completamente estapafúrdio que isso pudesse acontecer, a eliminação de todas as alternativas mais ocidentais diz muito da geografia racializante que aqui parece ser operativa. Ninguém viu Maddie na Suécia, nem tão-pouco na Estónia. Claro que a probabilidade de dar por ela no meio de populações caucasianas maioritariamente loiras é baixíssima; mas também não deixa de ser verdade que a maioria das denúncias do paradeiro de Maddie obedecem a uma lógica do contraste: preto com loiro, moreno com loiro – forte probabilidade de ser a menina raptada.
Não negligenciemos que a recompensa de 3,5 milhões de Euros a quem der notícias sobre o paradeiro da menina constitui razão suficientemente aliciante para que surjam Maddies de todo o lado. Mas ainda assim, e por maioria de razão, não seria espantoso se as começassem a ver no Norte da Europa, na Rússia ou mesmo na Gronelândia. Todavia, ela só está na África negra, no norte árabe, no obscuro Oriente. Aparece às costas de uma marroquina numa fotografia de turista, e o legítimo pai teve que asseverar às autoridades de que era mesmo a filha dele; algo de que nem ele próprio pode estar certo, caso tivesse a legítima esposa andado a rebolar no feno (ou nas plantações de ache) em Chifchaue.
Curioso, curioso, é o facto de ter sido desde o recrutamento para a causa McCann do antigo responsável pela comunicação do governo de Gordon Brown que começaram a ressurgir fotografias com supostas Maddies. Esta era a óbvia resposta depois de o Tal & Qual ter revelado ao mundo que a mãe de Maddie andava a dar baldas na universidade. De duas uma, ou o Tal & Qual segue os preceitos morais do cardeal Martino, para quem, mulher que dá baldas na universidade ou acaba em puta ou em infanticida; ou então anda alguém apostado em fazer a cama a Cathy McCann. E desta vez nem sequer é para ela se rebolar.

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