Má raça
Tive uma conversa interessante durante o almoço. Conversa com mulheres – há que estar sempre atento para não ser desadequado ou impróprio. A conversa versou sobre o harrasment (dito assim soa mais tenebroso). A questão que eu coloquei era a de saber se um tipo que lhe desse na cabeça espetar um beijo suado e melado na boca de uma companheira de trabalho, durante o horário de expediente, lá para trás de uns cacifos na sala do arquivo, se em vez de levar uma estalada no focinho podia ser acusado de harassment. Ou seja, se o acto impulsivo de indomável desejo sexual por uma colega de trabalho podia, no final de contas, ser criminalizado. Não relato experiência pessoal, portanto todos aqueles que se preparam para um momento de espasmódica intimidade através da minha narrativa podem desde já ficar desiludidos. A situação é apenas ilustrativa do argumento. A resposta foi, no entanto, espantosa. Não porque as mulheres presentes até vissem de bom grado a possibilidade de levar um linguado no meio do pó e das teias de aranha, mas porque seria a coisa mais asquerosa, indigna, contranatura que lhes poderia alguma vez acontecer. Porquê? Porque o toque sem premissão é sentido como violação.
Bem sei que o registo do sismógrafo carnal destas coisas varia consoante a latidude e a topografia, e que um toque sambado não é a mesma coisa do que um toque na nevoenta e fria Helsinquia. Mas adiante.
A coisa foi debatida dentro da corela do politicamente correcto, que é motivo, imediatamente, para estar de sobreaviso. Expliquei que não havia maneira de expressar uma paixão sem ser pelo risco da rejeição, mas que a tentativa não podia ser criminalizada. Aliás, servindo-me de Zizek, o Slavoj, acrescentei que paixão sem o seu quê de violência assemelha-se a formulário de centro de saúde. Escândalo! Opróbrio! O tipo é um violador em potência! A porra é que o contra-argumento é torcido e difícil de dirimir. Pois não é que, se fosse num clube, levar uma amassadela, até estava bem, mas na repartição deus nos acude, qué pecado e há que rezar pai nossos e avé marias. Perceber isto: o politicamente correcto é uma lança acerada para pessoas que sofrem de má consciência.
Bem sei que o registo do sismógrafo carnal destas coisas varia consoante a latidude e a topografia, e que um toque sambado não é a mesma coisa do que um toque na nevoenta e fria Helsinquia. Mas adiante.
A coisa foi debatida dentro da corela do politicamente correcto, que é motivo, imediatamente, para estar de sobreaviso. Expliquei que não havia maneira de expressar uma paixão sem ser pelo risco da rejeição, mas que a tentativa não podia ser criminalizada. Aliás, servindo-me de Zizek, o Slavoj, acrescentei que paixão sem o seu quê de violência assemelha-se a formulário de centro de saúde. Escândalo! Opróbrio! O tipo é um violador em potência! A porra é que o contra-argumento é torcido e difícil de dirimir. Pois não é que, se fosse num clube, levar uma amassadela, até estava bem, mas na repartição deus nos acude, qué pecado e há que rezar pai nossos e avé marias. Perceber isto: o politicamente correcto é uma lança acerada para pessoas que sofrem de má consciência.
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