Tuesday, June 26, 2007

Gay paradie

As paradas gays sempre me pareceram uma grandessíssima palhaçada. Pouco têm a ver com direitos, embora toda a parafernália discursiva em torno das identidades as associe imediatamente com a luta pelos direitos. É fácil fundear nos escolhos da identity politics. Diz o Daniel que isto acontece para mostrarem que os heterossexuais os devem aceitar como eles são: com plumas, lantejoulas e outros apetrechos carnavalescos. As paradas equivaleriam portanto às manifestações das mulheres a queimarem soutiens ou aos desfiles dos negros norte-americanos pelos direitos civis. Nem uma nem outra. Sim, bem sei, há a questão da visibilidade versus a invisibilidade a que os G&L são, supostamente, votados. Será isso verdade? Nunca, como hoje, a homossexualidade ganhou um padrão estetizante, ao ponto de haver profissões consideradas como típicas de homossexuais; e não é um novo tipo de preconceito, é o mercado que assim o ditou (ver Florida). Se há anúncios na Califórnia, para certos sectores, a procurar especificamente gay people, onde é que fica a questão da invisibilidade?
Uma parada G&L tem sempre uma componente de transgressão. Mas transgressão em relação a quê? Não parece ser um desafio às visões e atitudes preconceituosas, nem tão-pouco a um estilo de vida com o qual não se concorda; afinal a maioria dos G&L, finda a parada, voltam às suas vidas, profissionais e familiares, business as usual, e largam as lantejoulas e as perucas. As paradas dos G&L têm qualquer coisa de Saturnália, um período consagrado para a transgressão onde as preocupações com os direitos são sobrepujadas pelo estado de excepção do direito a transgredir.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home