Vitovitsky
Há um pintor do qual me apetece falar. Trata-se de Isold Erinst Vitovitsky. Vitovitsky não é muito conhecido no mundo islâmico, embora as suas pinturas sobre índios guaranis tenham ficado famosas na Islândia, quando por lá passou a exposição itinerante “Vitovitsky, o dia em que o diabo perdeu um olho”. Claro que não há apenas um Vitovitsky, assim como não há um só Picasso ou Dali ou Van Gogh. Das diferentes fases de V. aquela que mais me impressiona é a fase das cadeiras. Muitos obstaram que aquelas monumentais cadeiras, desenhadas a grossas pinceladas, com o sua geometria rígida e cores desarmónicas não passavam de uma deficiente interpretação do purismo vanguardista dos Moralianos. Não estou totalmente de acordo. Gosto de pensar que a fase das cadeiras, com as suas versões caleidoscópias de planos sobrepostos e hiperbólicos, foi influenciada pela paixão de Vitovitsky pelo snooker e sobretudo pela famosa bola em arco tensionado da qual ele era particularmente admirador. A geometria confunde-se aí com as tendências deletérias de um mundo (des)moralizante.
A rigidez das suas estruturas, por mais paradoxal que pareça, combina-se com a ductilidade do tecido imagético que nos leva a aceder, não sem esforço anamnésico, a uma hiper-realidade que Vitovitsky tão bem soube captar na pintura “O muro”. Quantas das mais prementes questões da arte actual, sobretudo da crítica pós-paranóica, não se encontram aí convocadas? E no entanto, não podemos deixar de nos surpreender com aquilo que se nos afigura uma retirada subtil do palco de contorsões para onde Vitovitsky parecia encaminhar a sua arte das primeiras fases. As “cadeiras” surgiram portanto, nas palavras de Noel Berman, como a “radicalização de uma espacialidade incorpórea” que é objectivada na impossibilidade (dizemos nós) da harmonia geométrica. Não julgamos estar longe do que pensava o próprio pintor se atentarmos numa das suas entrevistas concedida ao “Virtual Art” em 2005 onde afirmava “gosto de me reconhecer em espaços infinitos que me mantenham vedada a possibilidade do encontro com uma arquitectura da solidez”; donde se pode (deve) reconhecer a desistência de o artista aceder ao nível da captação do hiper-ponto. É justamente numa das suas tentativas melhor conseguidas de descrição do esforço hiper-geométrico que Vitovitsky oferece-nos a deixa necessária ao entendimento da sequência das “cadeiras em contraponto”; citamos de memória “Nada na sequência (pigarreia um pouco e prossegue) revela que entre aquilo que pensamos e aquilo com que traduzimos o mundo das formas possa de alguma maneira ser representável”. É seguramente esta busca da irrepresentabilidade que encontramos disseminada pelas suas últimas obras, mas que conhece justamente o seu paroxismo na sequência das cadeiras. E a morte? Não nos afundamos em simbologia latente sobre a morte e a finitude como quando seguimos as pegadas desenhadas na areia de Tapiés. O trabalho artístico de Vitovitsky possui um outro horizonte: uma irrepresentabilidade do geométrico como negação da plausibilidade das formas. Aqui o que está em jogo não é tanto a anulação do referente, ou se quisermos a irreferencialidade última de todo o significante, mas fundamentalmente a afirmação (negação) da condição virtual de todas as formas.
A rigidez das suas estruturas, por mais paradoxal que pareça, combina-se com a ductilidade do tecido imagético que nos leva a aceder, não sem esforço anamnésico, a uma hiper-realidade que Vitovitsky tão bem soube captar na pintura “O muro”. Quantas das mais prementes questões da arte actual, sobretudo da crítica pós-paranóica, não se encontram aí convocadas? E no entanto, não podemos deixar de nos surpreender com aquilo que se nos afigura uma retirada subtil do palco de contorsões para onde Vitovitsky parecia encaminhar a sua arte das primeiras fases. As “cadeiras” surgiram portanto, nas palavras de Noel Berman, como a “radicalização de uma espacialidade incorpórea” que é objectivada na impossibilidade (dizemos nós) da harmonia geométrica. Não julgamos estar longe do que pensava o próprio pintor se atentarmos numa das suas entrevistas concedida ao “Virtual Art” em 2005 onde afirmava “gosto de me reconhecer em espaços infinitos que me mantenham vedada a possibilidade do encontro com uma arquitectura da solidez”; donde se pode (deve) reconhecer a desistência de o artista aceder ao nível da captação do hiper-ponto. É justamente numa das suas tentativas melhor conseguidas de descrição do esforço hiper-geométrico que Vitovitsky oferece-nos a deixa necessária ao entendimento da sequência das “cadeiras em contraponto”; citamos de memória “Nada na sequência (pigarreia um pouco e prossegue) revela que entre aquilo que pensamos e aquilo com que traduzimos o mundo das formas possa de alguma maneira ser representável”. É seguramente esta busca da irrepresentabilidade que encontramos disseminada pelas suas últimas obras, mas que conhece justamente o seu paroxismo na sequência das cadeiras. E a morte? Não nos afundamos em simbologia latente sobre a morte e a finitude como quando seguimos as pegadas desenhadas na areia de Tapiés. O trabalho artístico de Vitovitsky possui um outro horizonte: uma irrepresentabilidade do geométrico como negação da plausibilidade das formas. Aqui o que está em jogo não é tanto a anulação do referente, ou se quisermos a irreferencialidade última de todo o significante, mas fundamentalmente a afirmação (negação) da condição virtual de todas as formas.
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