Sunday, September 02, 2007

Bowling with Putnam

É provável que o último trabalho de Putnam faça correr muita tinta nos anos mais próximos. Não só nas diatribes académicas – onde promete muita e intensa discussão – como no debate político em geral. Um outro estudo, com semelhante impacto, tinha catapultado Charles Murray para as páginas dos maiores jornais internacionais. A Bell Curve arriscava a dubitativa e estrondosa hipótese de existência de diferenciais de inteligência entre grupos raciais. O impacto deste estudo, como é sabido, não ficou pela academia, extravasando para o espaço público e para as engenharias políticas onde teve largo aproveitamento por parte dos sectores conservadores da sociedade norte-americana. Só que neste caso, as conclusões do estudo estavam erradas e as suas premissas eram demasiado frágeis para resistirem às sucessivas refutações a que foram sujeitas.
O estudo de Putnam, embora anuncie um impacto semelhante, encontra-se noutra categoria. Nem os seus intentos são propagandistas, como as conclusões parecem ser bem mais robustas. O que descobriu Putnam no seu Diversity and Community? Simplesmente que quanto maior é a diversidade menor é a confiança entre indivíduos. O que sugere uma tese geral: maior diversidade étnica menor sociabilidade e menor a eficácia do capital social. Nas palavras de Putnam: “In the short and medium run (...) immigration and ethnic diversity challenge social solidarity and inhibit social capital
Este estudo demonstra que os níveis de confiança entre grupos étnicos estão negativamente correlacionados com a diversidade étnica. Estes níveis de confiança não se reduzem a confiança inter-pessoal, mas reflectem igualmente baixa confiança nas instituições, menor envolvimento na solução de problemas colectivos até menor níveis de felicidade e de percepção da qualidade de vida. Em suma, a confiança social é afectada pela maior diversidade étnica em inúmeros “social settings”! Putnam não é desavisado, muito pelo contrário. Por isso testou todas as possíveis variáveis sociais que possam influenciar este padrão, tais como: níveis de pobreza, educação, idade, sexo, densidade habitacional, etc, etc. Filtrando a informação pelas variáveis sociais canónicas os resultados mantêm-se inalterados. Ou seja, mesmo controlando uma série de variáveis passíveis de interferir na relação, esta mantém-se. E mesmo controlando efeitos de colinearidade, a relação não é espúria. Com grande grau de fiabilidade se pode afirmar que existe uma correlação negativa entre diversidade étnica e confiança. Mas Putnam vai mais longe. Sucede que não é só em relação ao out-group que a confiança é baixa, mas, surprise!, também em relação ao in-group. Significa que a confiança no in-group não surge como o reforço simétrico etnocêntrico da desconfiança em relação ao out-group. A falta de confiança extravassa o “outros” e espraia-se pelo “nós”.
O estudo de Putnam é de leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam por estas matérias. Mais do que infirmar os seus resultados, importa fazer um exercício meramente especulativo e imaginar a possibilidades de extrapolação das suas descobertas. Muitos dirão que se isto é de facto fiável, e sabendo nós como a confiança entrou em aluvião pelo léxico gestionário e pelas relações interpessoais, então escolas mistas, passam a ser sinónimo de menor inter-confiança, bairros interraciais, escolhas a evitar no planeamento urbano, e podem ir imaginando uma panóplia de situações onde o padrão poderá ressurgir.

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