Saturday, September 01, 2007

Parco elogio fúnebre a EPC

Morreu Eduardo Prado Coelho. E eu chego atrasado ao funeral. Ninguém me conhece, e melhor assim. Mas conhecia eu o EPC embora ele nunca me tivesse visto, a não ser naquele dia a beber uma bica no CCB em que a ele me dirigi, cumprimentando-o efusivamente, rematando o meu júbilo com a frase "imagine-se encontrá-lo aqui!".

Li vários aí pela blogosfera. Todos o odiavam (ou quase todos); o mesmo é dizer todos o invejavam. Porque não é fácil escrever "...o discurso interior impõe-se com uma espécie de júbilo vingativo e as frases mais delirantes sobrevoam-me como helicópteros que disparam às cegas sobre a minha cabeça (será o apocalipse). Daí que escrever implique um uso produtivo do cansaço. Mas, para que haja um uso produtivo, é preciso que o próprio cansaço o permita. Nem sempre. Ou melhor: raramente." (Tudo o que não escrevi, II)

E foi justamente este o livro, ou a série, que me ficou na memória. E como não possuo condições para julgar a medida da grandeza intelectual de Prado Coelho, recuo perante a banalidade e o disparate, remetendo-me circunspecto ao silêncio.

Mas levo-me a outro caminho. Um que não me implica na sua erudição, nem tão-pouco me deixa presa das pressurosas razões que se aduzem sobre os mortos que sob eles construiram um reino - de fantasias, de amorosas desrazões, de parábolas ou de verdades amargas. Digo apenas que, e tento fazê-lo num apelo certeiro,.

E num tom sério e circunspecto: também ele se aproximou do literário como ninguém (não eu, compreenda-se). Muitos outros, lidos e relidos, e tão lidos que se tornaram em sua expressão mais essencial, delidos. Sim, é sobre o amor que discorro. E esse já não se encontra em muitos lugares; definitavamente não nos novos críticos, cuja sensibilidade se aproxima de um focinho de um ouriço. Não haviam pois de gozar. Quem mostra demasiado uma paixão é sempre punido na rudeza do pelourinho. É assim desde tempos imemoriais.

Cá vou com a fina tecitura do "tudo o que não escrevi" porque ler-te em diário constituia bem mais parcela do real do que todos os elogios fúnebres que ainda em vivo te dedicaram. Sobretudo quando a paisagem não se cansa vista de uma janela de um comboio.

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