Basta, Baptista, Basta!
É natural que seja difícil compreender por que razão um grande escritor como BB, se presta a fretes ao jornal de Luís Delgado.
Uma vez, acusaram um jornalista de se vender ao inimigo. Ele um combatente anti-fascista e de ideias bem firmes na esquerda, escrevia artigos apologéticos de uma tradição política que execrava. Então ele respondeu:: preciso de pagar o leite para a minha filha.
Esta é uma razão mais que suficiente e não creio que possa ser atacada nem pelo moralismo intelectual nem pela causa política. O que há a dizer, é merda para as duas. Nada é mais puro e escorreito do que o leite para a filha. Mas se fosse assim estávamos tramados. E estamos. Porque destas ouvem-se em todo o lado a qualquer hora. Na direita, faz-se gala em ser assim: corresponde aos pergaminhos ideológicos e ao o modus operandi dos seus cultores. Na esquerda, o modus operandi é rigorosamente o mesmo, mas muito envergonhado, delico-doce, e repleto de justificações que não têm deus nem pátria, porém abusam do espectro das circunstâncias, e do eu sou eu mais a minha circunstância. E é aqui que entra o artigo de BB.
Olhando bem para ele, a primeira coisa que ressalta é o cuidado que BB coloca nas palavras. Bem diferente dos termos desabridos que ele usa contra o PS. É com infinita precaução, pegando no tema com pinças, que BB se aventura pela primeira vez a comentar as movimentações no PSD. Não diz nada, ou diz muito pouco. Mas deixa um belo, e tenebrozo, elogio a Sá Carneiro. Estamos imponderáveis em paisagem lunar e qualquer movimento é multiplicado pela inexistência de inércia. Nada há mais que agrade ao PSD do que, em tempos de crise, ver a múmia de Sá Carneiro ser ressuscitada. É bem como no filme, a múmia vai se alimentando de corpos e de vísceras, até ganhar ela própria a forma humana. BB desta vez ofereceu-lhe um rim e uma aorta.
Então ficamos a saber que a múmia era incomensurável com os seus rebentos. A conclusão a este propósito é um misto de inocuidade com o que de mais anódino se pode depreender (do quê?). Fica-se siderado com isto: Bom: quer se queira ou não, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes representam duas das múltiplas faces daquele partido. Bom: quer se queira ou não, uma janela tem dois lados. Bom: quer se queira ou não quando não chove é provável que esteja a fazer sol. Bom: quer se queira ou não, uma tartaruga não corre tanto como uma lebre (e mesmo assim…). Sá Carneiro lá fica, promessa adiada a adejar ao vento tal bandeira de uma nação esquecida. É nisto que dão os mitos, e sobretudo os olhares comprometidos com esses mesmos mitos.
Não era preciso ir muito longe: tivesse BB lido a crónica do seu companheiro de diário e seria natural que se visse obrigado a aprofundar o enigmático “quer se queira ou não”. Mas há o leite da filha.
Uma vez, acusaram um jornalista de se vender ao inimigo. Ele um combatente anti-fascista e de ideias bem firmes na esquerda, escrevia artigos apologéticos de uma tradição política que execrava. Então ele respondeu:: preciso de pagar o leite para a minha filha.
Esta é uma razão mais que suficiente e não creio que possa ser atacada nem pelo moralismo intelectual nem pela causa política. O que há a dizer, é merda para as duas. Nada é mais puro e escorreito do que o leite para a filha. Mas se fosse assim estávamos tramados. E estamos. Porque destas ouvem-se em todo o lado a qualquer hora. Na direita, faz-se gala em ser assim: corresponde aos pergaminhos ideológicos e ao o modus operandi dos seus cultores. Na esquerda, o modus operandi é rigorosamente o mesmo, mas muito envergonhado, delico-doce, e repleto de justificações que não têm deus nem pátria, porém abusam do espectro das circunstâncias, e do eu sou eu mais a minha circunstância. E é aqui que entra o artigo de BB.
Olhando bem para ele, a primeira coisa que ressalta é o cuidado que BB coloca nas palavras. Bem diferente dos termos desabridos que ele usa contra o PS. É com infinita precaução, pegando no tema com pinças, que BB se aventura pela primeira vez a comentar as movimentações no PSD. Não diz nada, ou diz muito pouco. Mas deixa um belo, e tenebrozo, elogio a Sá Carneiro. Estamos imponderáveis em paisagem lunar e qualquer movimento é multiplicado pela inexistência de inércia. Nada há mais que agrade ao PSD do que, em tempos de crise, ver a múmia de Sá Carneiro ser ressuscitada. É bem como no filme, a múmia vai se alimentando de corpos e de vísceras, até ganhar ela própria a forma humana. BB desta vez ofereceu-lhe um rim e uma aorta.
Então ficamos a saber que a múmia era incomensurável com os seus rebentos. A conclusão a este propósito é um misto de inocuidade com o que de mais anódino se pode depreender (do quê?). Fica-se siderado com isto: Bom: quer se queira ou não, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes representam duas das múltiplas faces daquele partido. Bom: quer se queira ou não, uma janela tem dois lados. Bom: quer se queira ou não quando não chove é provável que esteja a fazer sol. Bom: quer se queira ou não, uma tartaruga não corre tanto como uma lebre (e mesmo assim…). Sá Carneiro lá fica, promessa adiada a adejar ao vento tal bandeira de uma nação esquecida. É nisto que dão os mitos, e sobretudo os olhares comprometidos com esses mesmos mitos.
Não era preciso ir muito longe: tivesse BB lido a crónica do seu companheiro de diário e seria natural que se visse obrigado a aprofundar o enigmático “quer se queira ou não”. Mas há o leite da filha.
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