Uma escolha que não se pode recusar
Na sua anatomia do centro político o Nuno esqueceu-se de referir um aspecto importante: o centro é, nas democracias ocidentais, o espaço das escolhas obrigatórias. Uma vez Boaventura de Sousa Santos causou grande escândalo em Portugal (mesmo entre a esquerda) porque disse que, se o voto mudasse alguma coisa, já há muito que tinham acabado com ele. Não podia ter mais razão, as democracias parlamentares são a encenação das falsas escolhas entre as mesmas opções, Republicanos e Democratas, Trabalhistas e Conservadores, PS e PSD. Chama-se a isto maturidade democrática. Escolher qualquer outra opção revela imaturidade e como tal tem de ser corrigida e castigada. Imagine-se o que aconteceria em Portugal caso o PCP ou o BE fossem o partido mais votado numas legislativas.
O povo Timorense teve essa descortesia de votar em quem não era suposto, e a Fretilín acabou como o partido mais votado, para grande desagrado dos amigos da democracia australianos e americanos. Para alegria deles e frustração do povo que votou na Fretilín, o lacaio ao serviço dos seus interesses que ocupa a presidência da república fez algo absolutamente inusitado: promoveu uma coligação entre todos os outros partidos para afastar a Fretilín do poder e colocar como primeiro-ministro Xanana Gusmão, outro lacaio dos australianos. A isto chama-se golpe de estado, nem mais nem menos.
O que é estranho é que os meios de comunicação social portugueses, sempre tão ávidos por notícias sobre Timor tenham dado tão pouca importância a esta notícia. Ou se calhar não é nada estranho. Ás vezes é tão difícil disfarçar o desplante que o melhor é torcer para que ninguém note.
1 Comments:
aconselho-te a leitura do primeiro capítulo do "On the shores of politics" do Ranciére, onde ele expõe com a clareza costumeira a incongruência entre o centro e a desigualdade social. mas este centro extravassa em milénios aquilo a que tu chamas a democracia ocidental, e vem do problema de sabir quem havia de participar na ágora, e ter opinião, e quem deve ser um político. era a isso que me referia, o que aliás pensei que estaria claro quando faço alusão à sobreposição entre parlamentarismo e centro - uma contingência histórica.
o teu post não muda em nada a minha tese sobre o centro e a necessidade dele. o que se referia era a um centro para além (ou aquém) da democracia partidária.
a tua resposta só confirma que a esquerda insiste em confundir o centro com o estado.
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