Monday, September 03, 2007

Grundriss


Marx, nos seus artigos como correspondente europeu do New York Tribune, mostra o quanto um filósofo se pode envolver com o mundo, e portanto, não apenas pensá-lo. Num dos artigos, intitulado The Conditions of Factory Workers,, Marx refere as condições de perigosidade a que os trabalhadores eram sujeitos. Aí se faz alusão ao excesso de horas de trabalho, à falta de protecção, à condição desnutrida de certos trabalhadores, etc. As consequências destas condições cifravam-se em um número terrífico de acidentes de trabalho cujas vítimas, privadas do seu principal instrumento de sobrevivência no mercado de emprego – a força de trabalho – se viam obrigadas a cair na miséria e na mais extrema destituição. Marx apela para o trabalho e eficácia dos inspectores fabris, mas salienta que estes são sistematicamente ludibriados pelos patrões, ou porque os trabalhadores e as áreas com piores condições não se encontram acessíveis quando os inspectores chegam às fábricas, ou porque os patrões conhecem com antecedência a data em que os inspectores visitarão a sua fábrica, ou porque os trabalhadores, note-se, trabalham clandestinamente e portanto não são contabilizados pelos registos dos inspectores fabris. Ao ler o artigo torna-se difícil deixar de equacionar estes mesmos problemas com a actualidade. Rigorosamente as mesmas dificuldades que os inspectores do trabalho enfrentam actualmente. Não pode passar despercebido que actualmente, as precárias condições de trabalho dos trabalhadores ilegais, o número expressivo de acidentes de trabalho que atinge esta população em particular, bem como a sujeição à exploração por excesso de horas de trabalho, possuem profundas ressonâncias com a descrição que Marx fazia das condições fabris. Curiosamente, parece que Marx antecipou o conjunto de potenciais indicadores que hoje em dia utilizamos quando queremos dar uma ideia das periclitantes condições de trabalho dos trabalhadores ilegais imigrantes. Em verdade, só nos resta concluir que pouco mudou, sendo que a mudança mais crucial foi a deslocação desta sujeição dos nacionais para os estrangeiros. Lendo os artigos que Marx escrevia em meados do século XIX para o New York Tribune, convém que nos interroguemos se há realmente diversas fases do capitalismo, ou se o capitalismo tardio só surge enquanto radicalmente diferente para aqueles que não se encontram nas perdurantes esferas de sujeição – físicas e morais – do velho capitalismo desorganizado.

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