Friday, September 28, 2007

O Tuguismo

O Rui Tavares, de quem eu gosto de ler os artigos, termina um dos mais recentes que versa sobre a imigração com um sinistro “sentir-se português”. Ressoaram em mim, e de imediato, as palavras de Straw e o seu projecto para implementar a “Britishness”. Por que razão quereria um imigrante sentir-se português e, pior, por que razão seria isso um prémio no final de uma carreira de esforço e, por vezes, de perigos, até chegar a residir num novo país? Não se percebe. Mas o espírito da nacionalidade, esse mesmo que abunda em todos nós, assim como o fantasma do comunismo, emerge a horas estranhas e faz do mais esclarecido um perigoso chauvinista. Nem é espantoso que o Rui Tavares o diga. Tornou-se lugar-comum enveredar por este raciocínio que parece tanto mais evidente quanto a sua conclusão necessária. Nem por um só momento, um nacional da nação (pleonástico que o seja) põe em causa que obter esse prémio de sentir-se nacional como ele, é a maior honra que alguém pode almejar. E no entanto, aposto que o Rtavares teria uma dificuldade do outro mundo para definir, ou sequer dizer, o que é esse sentimento de ser portugês.
Sente-se mais português (holandês, inglês, etc) ou ucraniano (indonésio, paquistanês, etc) ? Pergunta capciosa tantas vezes feita em inquéritos sérios e noutros mais sensacionalistas, mas que se se pensar um pouco nela, não significa rigorosamente nada. E mais, não avalia rigorosamente nada. Exceptuando a mitificação de que existe uma resposta concreta e imediata para uma tal questão. Alguém a tem para o ser português?

4 Comments:

Blogger David Lourenço Mestre said...

“É por isso é que o teste ao liberalismo não deve ser um teste teórico, mas sim prático”

E é no plano prático que encontramos os resultados. Na ultima vaga de novos ricos temos Irlanda, Espanha, Coreia do sul, Taiwan, grécia, eslovénia, Inglaterra, Singapura, Hong Kong. E como ignorar quem o começou, o canada, estados unidos, França, os países escandinavos, Alemanha, bélgica, japão, Holanda, Luxemburgo, suiça.

A Coreia do sul é um caso pragmático e que conheço pessoalmente, salários médios de 2500 euros, o governo apresenta inidices de pobreza de cinco por cento, oito em dez chegam à faculdade, uma sociedade do conhecimento num estádio de desenvolvimento tecnológico superior de cinco a dez anos em relação ao ocidente.

E vários países estão na lista de espera para reforçar as fileiras dos ricos.

6:25 PM  
Blogger David Lourenço Mestre said...

Nuno seria injusto nao colocar aqui o que escrevi no meu blog:

Nuno Castro aborreceu-se com Rui Tavares. O motivo da zanga? Rui Tavares “termina um dos mais recentes [artigos] que versa sobre a imigração com um sinistro “sentir-se português”.” Compreendo o incómodo de Nuno Castro, entendo o desconforto de Rui Tavares. Temos de recuar dois séculos e conhecer a voz de quem segue ao leme do nacionalismo alemão. Abram alas a Fichte. O mestre, o profeta, o filosofo da escola romântica, com a elegância dos mestres, a eloquência dos profetas, a paciência dos filósofos, celebra a sociedade, o grupo, o colectivo, a raça, a nação nos quais o individuo decompõem-se e pelos quais marcham. O individuo é o jarro que o colectivo preenche. O que é o homem senão o barro que a marcha da moral molda. O papel do individuo é prestar homenagem à sociedade da qual emana. Fichte não morreu em 1945 com a queda do nazismo. Fichte está entre nós, idealista e entoando o hino laudatório à “nação”. O que é a nação senão a cultura, a tradição, a memória. Avisa quem quer ouvir, a submissão, o sacrifício, a obediência ao super-eu, ao cosmos que pariu o nosso corpo, ao banco cultural credor da nossa alma, não é dever, é privilégio. Vivemos dias marcados por um novo nacionalismo. Um nacionalismo que aparece entre as bandeiras ao progresso. O multiculturalismo. O multiculturalista, herdeiro dos movimentos socialistas, já não habita a casa do socialismo economicista, vive sob o tecto do reaccionarismo cultural. O multiculturalista vê no imigrante, não um novo cidadão igual aos demais cidadãos, mas o refugiado. Não um individuo do qual lhe pedimos deveres e a qual lhe prestamos direitos. Não um novo membro da comunidade. Não o cidadão obediente à constituição. Mas uma nova comunidade. Um novo substrato moral. Uma nova civilização. Um novo corpo de leis. A mão orgulhosa de Fichte a partir da tumba acarinha o filho do seu ventre. Tal como os românticos de outrora, os multiculturalistas clamam pela defesa das culturas naturais perante a marcha abjecta da civilização mecânica. A civilização que destrói a pureza, que amassa o genuíno, que viola os castos. Não é o imigrante o átomo insignificante da comunidade a que pertence? É só uma peça do relógio comunitário. E o que é a razão que ecoa no ambiente institucional senão a voz da civilização liberal? Nesta caminhada a bandeira já não é o operário ocidental, é a manifestação cultural que brota da comunidade imigrante. Esperemos então que Boaventura Dos Santos nos guie pelas trevas do iluminismo até à terra prometida.

1:06 AM  
Blogger rui tavares said...

Olá, Nuno Castro, e obrigado pelos comentários simpáticos.

No entanto, creio que boa parte desta interpretação deixa de fazer sentido se voltarmos ao texto original. Eu não acabo o texto com um "sentir-se português", muito menos sinistro. Aqui está o excerto:

"Um imigrante que completasse uma licenciatura, mestrado ou doutoramento no país de acolhimento deveria ter direito à concessão de nacionalidade. [...] O imigrante terá um estímulo adicional para se qualificar, e o país sentirá que o imigrante se esforçou para ser português."

O "ser português", neste caso, não é nada de metafísico. É ter concedida a nacionalidade, que é em primeiro lugar um objecto jurídico. Não digo que o imigrante tenha de "sentir-se português" (não me sinto em posição de exigir sentimentos aos outros) mas prevejo que o país "sentirá" que o imigrante conquistou a nacionalidade através do esforço académico, o que provavelmente será mais valorizado do que pelo tempo de estadia. É só isso.

10:26 PM  
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