Questões de língua
Jack Straw quer implementar um programa para a promoção da “Inglecidade”, qualquer coisa que anda pelo orgulho de sentir-se inglês havendo para isso que arranjar algumas desculpas convincentes. O jornalista do Guardian tem pelo menos o cuidado de não ser muito peremptório sobre o elenco dos valores que poderiam constituir a “Britishness”; por isso escreve “The supposedly British values of tolerance, decency and respect for the law and human rights are no longer exclusive to these islands.” Dando de barato que seria legítimo perguntar se estes valores alguma vez foram “exclusivos” daquelas ilhas, a afirmação possui pelo menos o mérito de começar por um cauteloso “supostamente”. Desconhecemos se estes valores, supostamente parte da tradição das ilhas, se estendem igualmente a outras ilhas, como sejam as Malvinas – onde a tradição da tolerância e dos direitos humanos foi aplicada com brio e circunstância -, ou as mencionadas no post abaixo pelo Bruno, de seu nome Turk & Caicos, onde parece que a decência anda à saldo.
Mas não sejamos demasiado picuinhas, porque afinal o jornalista acrescenta que esta coisa de se sentir britânico não se limita à geografia “ilheia”, e que em verdade extravasa para a geografia alheia. Donde, “my fantasy is that I am a citizen of a united Europe and therefore share in the cultural riches and economic power of an entire continent rather than just Britain's”. E bem razão tem ele em afirmar que é a sua fantasia. Porque de riquezas culturais, rejeitou a suposta “Britishness” a carta dos direitos humanos referida no novo tratado, aquele que recicla a velha constituição europeia. Pobre da tolerância e dos direitos humanos que parecem andar a perder prestígio nas novas definições de Britishness.
Numa coisa têm os britânicos razão: a Europa partilha da cultura inglesa a um ponto em que se encontra totalmente nela emersa. Não é que os ingleses sintam necessidade de se identificarem com a Europa – porque não sentem. Mais simplesmente a Europa não tem alternativa que não seja a de se identificar com a velha Albion. E isto é assim porque um dos principais sistemas de identificação simbólica se encontra refém da cultura de sua majestade: a língua. Bem podem os ingleses passearem-se por essa Europa fora, porque ela está preparada para os receber segundo a sua matriz hegemónica. Têm por isso um elemento imediatamente a seu favor: ninguém manipula melhor a língua deles do que eles próprios. E se isto parece demasiada carolice, atente-se no facto de em qualquer encontro, conferência, seminário, apresentação, efeméride de nível internacional, todos parecerem atrasados mentais, excepto os próprios. Nestes próprios incluem-se, para ser mais preciso, os que dominam o inglês, o que não coincide exactamente com os habitantes da ilha. Mas para efeitos de argumento, é notório que a Europa é um quintal inglês de língua franca; que o esperanto europeu que uniria os europeus com que Jean Monnet sonhava, já se materializou na generalização do inglês como língua oficial da UE. Um tal facto oferece uma capacidade aos ingleses que não é de negligenciar. Os franceses bem lutam para que a sua língua possua igual reconhecimento. Mas estas contendas nunca se restringem a problemas de fonética ou de semântica. Prendem-se antes a questões de geografia política; e, actualmente, quem domina são os anglófilos. Que isso lhes outorga uma vantagem comparativa em todos os mercados – político, económico, científico – está patente em cada forum no qual se encontrem diversas nacionalidades.
Mas não sejamos demasiado picuinhas, porque afinal o jornalista acrescenta que esta coisa de se sentir britânico não se limita à geografia “ilheia”, e que em verdade extravasa para a geografia alheia. Donde, “my fantasy is that I am a citizen of a united Europe and therefore share in the cultural riches and economic power of an entire continent rather than just Britain's”. E bem razão tem ele em afirmar que é a sua fantasia. Porque de riquezas culturais, rejeitou a suposta “Britishness” a carta dos direitos humanos referida no novo tratado, aquele que recicla a velha constituição europeia. Pobre da tolerância e dos direitos humanos que parecem andar a perder prestígio nas novas definições de Britishness.
Numa coisa têm os britânicos razão: a Europa partilha da cultura inglesa a um ponto em que se encontra totalmente nela emersa. Não é que os ingleses sintam necessidade de se identificarem com a Europa – porque não sentem. Mais simplesmente a Europa não tem alternativa que não seja a de se identificar com a velha Albion. E isto é assim porque um dos principais sistemas de identificação simbólica se encontra refém da cultura de sua majestade: a língua. Bem podem os ingleses passearem-se por essa Europa fora, porque ela está preparada para os receber segundo a sua matriz hegemónica. Têm por isso um elemento imediatamente a seu favor: ninguém manipula melhor a língua deles do que eles próprios. E se isto parece demasiada carolice, atente-se no facto de em qualquer encontro, conferência, seminário, apresentação, efeméride de nível internacional, todos parecerem atrasados mentais, excepto os próprios. Nestes próprios incluem-se, para ser mais preciso, os que dominam o inglês, o que não coincide exactamente com os habitantes da ilha. Mas para efeitos de argumento, é notório que a Europa é um quintal inglês de língua franca; que o esperanto europeu que uniria os europeus com que Jean Monnet sonhava, já se materializou na generalização do inglês como língua oficial da UE. Um tal facto oferece uma capacidade aos ingleses que não é de negligenciar. Os franceses bem lutam para que a sua língua possua igual reconhecimento. Mas estas contendas nunca se restringem a problemas de fonética ou de semântica. Prendem-se antes a questões de geografia política; e, actualmente, quem domina são os anglófilos. Que isso lhes outorga uma vantagem comparativa em todos os mercados – político, económico, científico – está patente em cada forum no qual se encontrem diversas nacionalidades.
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