Wednesday, October 17, 2007

Em negativo


Pessoas sentadas no café. A luz brumosa a escoar-se pelo chão de madeira. Nos cantos, a penumbra. Candeeiros de pé a iluminarem mesas e cabeças com os seus focos concêntricos. Alguns clientes levam o cigarro à boca; outros remexem entretidos as colheres nas chávenas vazias. Burburinho de vozes. Espanto, de raparigas juntas numa das mesas, espanto verbalizado em estridentes injunções. A vitrina deixa ver a rua, até à esquina cinzenta. Pessoas que passam, para cima e para baixo. Alheadas do espanto das raparigas, dos cigarros presos displicentemente nos dedos, da luz que se côa nas paredes. Quadros. Diversos quadros, com pessoas, que trabalham e divertem-se, em simultâneo. Turistas, alguns. Outros, em velhas motorizadas, saídas de um tempo ausente. Pendurados nas paredes, quadros que não suscitam a atenção nem das raparigas, nem dos clientes que fumam, nem dos que olham compenetradamente para as chávenas. Que esperam eles encontrar? Nem das pessoas que passam na rua, passo estugado, e que são nos dadas a apreciar como no daguerriótipo do ilustre Daguerre. Que esperava ele encontrar?

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