Tergiversação sobre os malefícios blogosféricos das polémicas inconsequentes.
Há gajos que ou são parvos ou fazem-se. Um deles é o Mexia. Apesar de ter uma verdadeira fascinação pelos pires da avó, fascínio que reitera em cada livro seu de poesia, é uma prima dona enfronhada que tem por prática perdilecta, como outro também bem célebre, brandir automaticamente a sua erudição literária quando o confrontam com posições contrárias. Dá-se o caso de o ter interpelado sobre o texto que publicara no seu blog revelando um certo incómodo em relação ao Nobel atribuído a Doris Lessing. Como achei curiosa a coincidência de um tal azedume dirigido à senhora, azedume que perpassa por essa blogosfera afora – de direita, pois claro – perguntei, por que raio todos eles afinavam pelo mesmo diapasão?
Por outro lado, algo ainda mais enigmático, esta mesma facção blogosférica idolatra o Roth; reza de manhã à noite para que ele ganha o Nobel; pede à senhora de Fátima para que o escritor leve o galardão máximo da literatura mundial, até se rojam de joelhos ao franquear o já famoso arco da Imaculada Conceição. Roth é de facto um excelente escritor, nem isso está em discussão, apesar de as últimas obras se parecerem todas umas com as outras. E mesmo assim, cada peido que o Roth dá merece rasgadíssimos elogios, encómios desproporcionados, como se o escritor que é Roth ofuscasse qualquer coisa que o tivesse antecedido ou que lhe venha a suceder. Sucede que, para além da pátria do mesmo, não encontro entusiasmo tão excessivo em nenhum outro país como o que se vê em Portugal. Estranho .
Por excepção de partes, Roth agradaria à nova direita porque é americano. Mas há muitos bons escritores norte-americanos que não merecem metade do júbilo ... Joyce Carol Oates, excelente. O jovem Safran Foer, grande revelação. O quase estreante Mohsin Hamid, com o seu “The reluctant fundamentalist”, uma surpresa de leitura obrigatória; o Dellilo, grande prosador, e Cormac MacCarthy, grande livro que é o de Road. A lista está longe de ser exaustiva como é óbvio. Seja como for, nenhum dos anteriores mereceu as distinções que foram sendo apensadas aos blogs dos jovens conservadores.
Porém, o fraquito Everyman foi acompanhado de fanfarra; tapete vermelho, livro nunca antes lido e outros exageros a que este grupúsculo é dado.
Para além disso, Roth é pouco politicamente correcto. Razão de sobra para fazer as delícias dos novos conservadores que odeiam tudo o que se assemelhe remotamente ao pc. Mas Cormac também não pode ser enlencado nos pcs norte-americanos, Dellilo não me parece que esteja muito para aí virado, Oates, qualquer coisa que se pareça com pc é-lhe naturalmente incompatível, e Foer está-se positivamente cagando. Por conseguinte, isto também não chega.
Chegamos ao pior, que é também aquilo para o qual mais me inclino. Não sem antes fazer uma deriva pela questão do antisemitismo. Sugeri que o amor por Roth se devesse fundamentalmente a uma solidariedade sionista. Uma tal consideração é por demais arriscada, sobretudo no contexto em que qualquer crítica ao que existe é imediatamente assimilada a um anti qualquer. Roth não é sionista. Foi até bastante crítico do sentimento apologético que a maioria dos porta-vozes da comunidade judia têm perante a actuação do Estado de Israel. Não obstante não ser um crítico proeminente, como, digamos, Judith Butler. E desde os seus mais tenros anos que não tem sido particularmente notória a sua revolta ou discordância. Por que o sugeri, fui imediatamente acusado de antisemitismo; mais, fui automaticamente catalogado em remanescências heichmanianas ainda mal depuradas. Com cortante originalidade, o poeta, que não tem por nome de guerre “sem-abrigo” como um outro famoso personagem literário – este vive bem que se farta (será inveja? Se calhar.) remata um dos seus posts dizendo que os extremos se tocam. Sei do poeta, que em pose muito pouco lírica, excumungou os árabes e incitou os cães da guerra a deglutirem o mal infrene do terrorismo (dá-lhe lirismo, caralho!). Este mesmo poeta que associou ao antisemitismo toda e qualquer crítica ao Estado de Israel. É fácil. Desloca imediatamente o contendor para um campo inqualificável. E aqui não há argumentação possível.
O Mexia foi tirar escritores judeus das prateleiras, revoltado com o antisemitismo grassante na esquerda e preparava-se para os devolver à embaixada de israel – que não se esquecesse de lhes dar baixa na Mossad. Com este acto Lili Caneças versão erudita apenas revelou ao mundo a pobreza das suas estantes. Por lá andavam autores de renome como Kafka e Proust, Joseph Roth e Osip Mandelstam, mas faltavam tantos e bons que eu acho que o Mexia, antes de se entregar a um auto-de-fé voluntário, devia apetrechar melhor a sua bibriotéca. Ficam algumas sugestões: Schnitzler, Arthur; Zweig, Stefan; Singer; Isac; Sachs, Nelly; Mailer, Norman; Perutz, Leo; Raninzky, qualquer coisa que não recordo; Brod, Max; Pinter, Harold; Buruma Ian (livro recente e não pouco interessante sobre a morte do Theo Vgogh); Canetti, Elias; Koestler, Arthur (estranho que não esteja no retábulo do Mexia????); Heller, Joseph; Asimov, Isac; Doctorow, E.L., Ginsberg, Allen; Mamet, David; Sontag, Susana; Stein, Gertrudes; e last but not the least Celan, o grande Celan. Estes foram os que já lhes toquei, quer com concentrada atenção quer de raspão; e são aqueles que me ocorrem no momento. Estão muito, mas muito longe de esgotar os inúmeros escritores judeus por esse mundo fora. No entanto ficámos também a saber que o sujeito não tem por lá nem Marx nem Trotsky! (e não me venham dizer que não são romancistas!). So much pró tipo que se diz não arregimentável.
Qual é o objectivo deste name dropping asqueroso. Primeiro, responder ao outro name dropping asqueroso, mesmo que de forma diletante, insidiosa, nojenta e em certa medida cobarde (mas o outro também foi, embora ninguém faça ni puta idea de quem eu seja e toda a gente conheça o poeta Pedro Mexia). Segundo, porque estou farto de que por qualquer merda lá venha o labéu do antisemita. Porra, um gajo diz – no que é simplesmente uma especulação quiçá desinformada – que o Roth recolhe os favores todos da direita, no que parece, repita-se, uma contradiction in terms, porque a direita não perdoa quando um gajo é um bocadinho que seja contra Israel (veja-se o Mexia) -, porque se calhar é judeu, americano e qualquer outra coisa que me escapa, e leva logo com o relambório do antisemitismo. Continuo na minha busca pelo esclarecimento colectivo. E se esta empresa não faz sentido nenhum, e se a minha mirífica crítica à nova direita portuguesa é perfeitamente deslocada, esquizofrénica e abúlica, então desculpem qualquer coizinha. Mas porquê o Roth, caraças? Resposta: porque a qualidade literária é transversal às filiações ideológicas, partidárias, religiosas e quejandas. O tanas é que é! O Saramago que o diga.
Ps. Não sou, nunca fui, nunca serei antisemita. Venho de famílias onde pontificam nomes como Zacarias, Benjamim, e outros que tais. Queres ver que sou um self-hating jew?
Por outro lado, algo ainda mais enigmático, esta mesma facção blogosférica idolatra o Roth; reza de manhã à noite para que ele ganha o Nobel; pede à senhora de Fátima para que o escritor leve o galardão máximo da literatura mundial, até se rojam de joelhos ao franquear o já famoso arco da Imaculada Conceição. Roth é de facto um excelente escritor, nem isso está em discussão, apesar de as últimas obras se parecerem todas umas com as outras. E mesmo assim, cada peido que o Roth dá merece rasgadíssimos elogios, encómios desproporcionados, como se o escritor que é Roth ofuscasse qualquer coisa que o tivesse antecedido ou que lhe venha a suceder. Sucede que, para além da pátria do mesmo, não encontro entusiasmo tão excessivo em nenhum outro país como o que se vê em Portugal. Estranho .
Por excepção de partes, Roth agradaria à nova direita porque é americano. Mas há muitos bons escritores norte-americanos que não merecem metade do júbilo ... Joyce Carol Oates, excelente. O jovem Safran Foer, grande revelação. O quase estreante Mohsin Hamid, com o seu “The reluctant fundamentalist”, uma surpresa de leitura obrigatória; o Dellilo, grande prosador, e Cormac MacCarthy, grande livro que é o de Road. A lista está longe de ser exaustiva como é óbvio. Seja como for, nenhum dos anteriores mereceu as distinções que foram sendo apensadas aos blogs dos jovens conservadores.
Porém, o fraquito Everyman foi acompanhado de fanfarra; tapete vermelho, livro nunca antes lido e outros exageros a que este grupúsculo é dado.
Para além disso, Roth é pouco politicamente correcto. Razão de sobra para fazer as delícias dos novos conservadores que odeiam tudo o que se assemelhe remotamente ao pc. Mas Cormac também não pode ser enlencado nos pcs norte-americanos, Dellilo não me parece que esteja muito para aí virado, Oates, qualquer coisa que se pareça com pc é-lhe naturalmente incompatível, e Foer está-se positivamente cagando. Por conseguinte, isto também não chega.
Chegamos ao pior, que é também aquilo para o qual mais me inclino. Não sem antes fazer uma deriva pela questão do antisemitismo. Sugeri que o amor por Roth se devesse fundamentalmente a uma solidariedade sionista. Uma tal consideração é por demais arriscada, sobretudo no contexto em que qualquer crítica ao que existe é imediatamente assimilada a um anti qualquer. Roth não é sionista. Foi até bastante crítico do sentimento apologético que a maioria dos porta-vozes da comunidade judia têm perante a actuação do Estado de Israel. Não obstante não ser um crítico proeminente, como, digamos, Judith Butler. E desde os seus mais tenros anos que não tem sido particularmente notória a sua revolta ou discordância. Por que o sugeri, fui imediatamente acusado de antisemitismo; mais, fui automaticamente catalogado em remanescências heichmanianas ainda mal depuradas. Com cortante originalidade, o poeta, que não tem por nome de guerre “sem-abrigo” como um outro famoso personagem literário – este vive bem que se farta (será inveja? Se calhar.) remata um dos seus posts dizendo que os extremos se tocam. Sei do poeta, que em pose muito pouco lírica, excumungou os árabes e incitou os cães da guerra a deglutirem o mal infrene do terrorismo (dá-lhe lirismo, caralho!). Este mesmo poeta que associou ao antisemitismo toda e qualquer crítica ao Estado de Israel. É fácil. Desloca imediatamente o contendor para um campo inqualificável. E aqui não há argumentação possível.
O Mexia foi tirar escritores judeus das prateleiras, revoltado com o antisemitismo grassante na esquerda e preparava-se para os devolver à embaixada de israel – que não se esquecesse de lhes dar baixa na Mossad. Com este acto Lili Caneças versão erudita apenas revelou ao mundo a pobreza das suas estantes. Por lá andavam autores de renome como Kafka e Proust, Joseph Roth e Osip Mandelstam, mas faltavam tantos e bons que eu acho que o Mexia, antes de se entregar a um auto-de-fé voluntário, devia apetrechar melhor a sua bibriotéca. Ficam algumas sugestões: Schnitzler, Arthur; Zweig, Stefan; Singer; Isac; Sachs, Nelly; Mailer, Norman; Perutz, Leo; Raninzky, qualquer coisa que não recordo; Brod, Max; Pinter, Harold; Buruma Ian (livro recente e não pouco interessante sobre a morte do Theo Vgogh); Canetti, Elias; Koestler, Arthur (estranho que não esteja no retábulo do Mexia????); Heller, Joseph; Asimov, Isac; Doctorow, E.L., Ginsberg, Allen; Mamet, David; Sontag, Susana; Stein, Gertrudes; e last but not the least Celan, o grande Celan. Estes foram os que já lhes toquei, quer com concentrada atenção quer de raspão; e são aqueles que me ocorrem no momento. Estão muito, mas muito longe de esgotar os inúmeros escritores judeus por esse mundo fora. No entanto ficámos também a saber que o sujeito não tem por lá nem Marx nem Trotsky! (e não me venham dizer que não são romancistas!). So much pró tipo que se diz não arregimentável.
Qual é o objectivo deste name dropping asqueroso. Primeiro, responder ao outro name dropping asqueroso, mesmo que de forma diletante, insidiosa, nojenta e em certa medida cobarde (mas o outro também foi, embora ninguém faça ni puta idea de quem eu seja e toda a gente conheça o poeta Pedro Mexia). Segundo, porque estou farto de que por qualquer merda lá venha o labéu do antisemita. Porra, um gajo diz – no que é simplesmente uma especulação quiçá desinformada – que o Roth recolhe os favores todos da direita, no que parece, repita-se, uma contradiction in terms, porque a direita não perdoa quando um gajo é um bocadinho que seja contra Israel (veja-se o Mexia) -, porque se calhar é judeu, americano e qualquer outra coisa que me escapa, e leva logo com o relambório do antisemitismo. Continuo na minha busca pelo esclarecimento colectivo. E se esta empresa não faz sentido nenhum, e se a minha mirífica crítica à nova direita portuguesa é perfeitamente deslocada, esquizofrénica e abúlica, então desculpem qualquer coizinha. Mas porquê o Roth, caraças? Resposta: porque a qualidade literária é transversal às filiações ideológicas, partidárias, religiosas e quejandas. O tanas é que é! O Saramago que o diga.
Ps. Não sou, nunca fui, nunca serei antisemita. Venho de famílias onde pontificam nomes como Zacarias, Benjamim, e outros que tais. Queres ver que sou um self-hating jew?
2 Comments:
Boa Nuno
Já era tempo de alguém por o Mexia na ordem
abraço
Caro Nuno,
O apodo de sionista a Mexia (e não me lembro em que blogue, talvez nas caixas de comentários do 5 Dias(?)) teve que ver com a sua fé (literária) em Roth para vencedor do Nobel deste ano. E quando o PM defendeu Roth em detrimento de Lessing (por razões que forçosamente não tenho de concordar, porque esse não é o cerne do tema em debate) houve alguém que, parco de ideias, o chamou de sionista apenas pela simples razão de gostar de um autor judeu, o que motivou uma tréplica sarcástica por razões que o Nuno aqui apontou: Roth é de esquerda, crítico de algumas das posições do Estado de Israel e do apoio incondicional do Governo americano.
O que eu critiquei foi essa ligeireza analítica: idolatra um escritor judeu, logo é sionista. Irrita-me essa intolerância...
Como dizia Bellow (um dos melhores de sempre, um verdadeiro colosso literário): Eu não sou um escritor judeu, mas um escritor americano que por acaso é judeu.
Já a política seguida recentemente pelo Comité Nobel, basta lembrar o caso de Borges.
No hard feelings,
Abraço.
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