Thursday, October 11, 2007

Zé brasileiro, português de Braga


Uma reportagem do DN dá conta da preocupação (legítima?) dos portugueses em relação ao novo museu da imigração. Como sempre, ou quase sempre, no jornalismo português a análise do acontecimento concreto é algo que não interessa e as declarações ficam pelo mais elementar. O que importa é Portugal e a imagem que lá fora fazem de nós. Quando não é o Figo, é o Ronaldo; e quando não são estes dois, lá desencantam um génio qualquer que cavou para uma Universidade americana high tech. Por isso quando sucedem coisas destas, como a que vem reproduzida em baixo, fica tudo estonteado e as reacções vão desde a gaguez até ao desnorte completo.


Ora isto, segundo a notícia, é um excerto de uma gravação a um ilustre imigrante português em França que faz parte da exposição do Museu da Imigração. Vejam como termina o parágrafo: “o áudio é acessível a todos os visitantes”, como se um terrível segredo que apenas era partilhado entre nós, tivesse de repente sido posto a claro, e com consequências indeterminadas. Uma vergonha. Então é esta a imagem que os franceses têm de nós? Nem Figo, nem Ronaldo, nem sequer Eusébio? Só por distração, ou má-fé, se pode reagir assim. Fazemos sistematicamente a mesma coisa com os nossos imigrantes. Eles vieram à procura de uma vida melhor; Portugal agradece o esforço, mas vai dizendo que é caridade e que isto não pode ser sempre quando um homem quiser, como o Natal. O escândalo, esse, já vai qual laparoto aos pulinhos pelas ruas de Paris. Um bom Parisiense ficará comovido ao ouvir a gravação com o testemunho de um imgrante português: aquilo deve ser cá uma merda, pensará. Ainda bem que eles tiveram a França para venir! E não andará muito longe da verdade. Então usamos avonde a mesma implicação: qué quesses pretos querem? Não tinham lá nada na terra deles e agora vêm páqui protestar! Não é inusitado ouvi-lo em taxistas e outros porta-vozes da consciência lusa. Camões, lá para o canto x passa tudo a pente fino, desde cães infiéis e “inicos” das arábias até brutos negros que na sua brutidade não sabem o que é a humana consciência. Assim, pelo menos para nós, terá começado. Não temos o exclusivo, como é evidente. Contudo, é sempre engraçado deparar com certas reacções de pânico como esta que perpassa pela afirmação de um “áudio” acessível a todos. Ecoa o verdadeiro lamento: como é que eles nos poderam fazer isto? É sempre uma experiência tenebrosa quando nos colocamos no lugar do outro.

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