Zé brasileiro, português de Braga
Uma reportagem do DN dá conta da preocupação (legítima?) dos portugueses em relação ao novo museu da imigração. Como sempre, ou quase sempre, no jornalismo português a análise do acontecimento concreto é algo que não interessa e as declarações ficam pelo mais elementar. O que importa é Portugal e a imagem que lá fora fazem de nós. Quando não é o Figo, é o Ronaldo; e quando não são estes dois, lá desencantam um génio qualquer que cavou para uma Universidade americana high tech. Por isso quando sucedem coisas destas, como a que vem reproduzida em baixo, fica tudo estonteado e as reacções vão desde a gaguez até ao desnorte completo.
Ora isto, segundo a notícia, é um excerto de uma gravação a um ilustre imigrante português em França que faz parte da exposição do Museu da Imigração. Vejam como termina o parágrafo: “o áudio é acessível a todos os visitantes”, como se um terrível segredo que apenas era partilhado entre nós, tivesse de repente sido posto a claro, e com consequências indeterminadas. Uma vergonha. Então é esta a imagem que os franceses têm de nós? Nem Figo, nem Ronaldo, nem sequer Eusébio? Só por distração, ou má-fé, se pode reagir assim. Fazemos sistematicamente a mesma coisa com os nossos imigrantes. Eles vieram à procura de uma vida melhor; Portugal agradece o esforço, mas vai dizendo que é caridade e que isto não pode ser sempre quando um homem quiser, como o Natal. O escândalo, esse, já vai qual laparoto aos pulinhos pelas ruas de Paris. Um bom Parisiense ficará comovido ao ouvir a gravação com o testemunho de um imgrante português: aquilo deve ser cá uma merda, pensará. Ainda bem que eles tiveram a França para venir! E não andará muito longe da verdade. Então usamos avonde a mesma implicação: qué quesses pretos querem? Não tinham lá nada na terra deles e agora vêm páqui protestar! Não é inusitado ouvi-lo em taxistas e outros porta-vozes da consciência lusa. Camões, lá para o canto x passa tudo a pente fino, desde cães infiéis e “inicos” das arábias até brutos negros que na sua brutidade não sabem o que é a humana consciência. Assim, pelo menos para nós, terá começado. Não temos o exclusivo, como é evidente. Contudo, é sempre engraçado deparar com certas reacções de pânico como esta que perpassa pela afirmação de um “áudio” acessível a todos. Ecoa o verdadeiro lamento: como é que eles nos poderam fazer isto? É sempre uma experiência tenebrosa quando nos colocamos no lugar do outro.
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