Thursday, November 08, 2007

Anti-americanismo


Hoje em dia, é anti-americano para cá, anti-americano para lá. Uns filósofos franceses da moda decidiram dedicar o seu tempo à definição do insidioso conceito; que passou a conceito porque uns filósofos franceses da moda decidiram dedicar o seu tempo a criá-lo. Entrou de imediato na enxurrada de livres pensadores do mercado e de acólitos do “in God we trust” que dele só vêem virtudes. Qualquer crítica, como por exemplo, “acho que eles já mataram para cima de 700.000 no Iraque” é imediatamente assimilado a esse tal anti-americanismo. Assim como qualquer crítica pelos idos de 70 que se fizesse contra a guerra do Vietname era prontamente associada com uma conspiração comunista. O que estes novos filósofos franceses nos ofereceram foi um MacCarthismo para consumo doméstico. Ninguém sabe muito bem o que significa esse tal de anti-americanismo, mas usamo-lo com o zelo de um fiscal da emel. O quê? O sr. disse que Bush era um fascista reaccionário e que não está nada a pensar na paz no mundo e em exportar a democracia? Anti-americano! Não posso!, acha mesmo que sejam repúblicanos sejam democratas os governos norte-americanos prosseguem sempre uma política imperialista? Você só pode ser um anti-americano feroz! E apesar de andar um tipo como o Gore Vidal a dizer que os Estates são uma potência imperialista – sustentando tão inusitada hipótese em vasta documentação histórica e conhecimento in loco – uma praga de caniches, que nem sequer vêem pecúlio com isso, afadiga-se a rotular de anti-americano qualquer que branda um estandarte crítico contra os tais USAs. Não deixa de ser engraçado que toda a gente saiba que a versão de Vidal é a correcta (mas quem diz Vidal, diz Chomsky) e que todos aqueles que erguem o espantalho do anti-americanismo são uns farsantes, uns tartufos, umas vezes mais ilustrados, outras apenas umas bestas encartadas.
Foi por isso necessário aparecer um gajo chamado Robert Kagan a cognominar a América, num livrinho, de “Dangerous Nation”. Kagan não pode ser arrolado aos anti-americanos, haja coerência e misericórdia. E o reaccionário de primeira água que é Kagan anda há muito a propagandear a musculatura da América por contraposição à tibieza da Europa. O que Kagan vem agora fazer é simplesmente dar voz, tornar público, àquilo que tanta gente andava a trabalhar para encobrir. E nem é que toda esta gente (este abstracto ilimitado) o faça estrategicamente – há automatismos em que um indivíduo se habitua a confiar. Mas Kagan vem pôr preto no branco que a América é uma potência imperial, que sempre quis fazer guerra e conquistar território e que sim senhora os desejos de soberania mundial são-lhe consubstanciais à história. Ou seja, vem dizer que o poder americano não é para ser levado levianamente, porque sempre esteve nos seus intentos demonstrá-lo a cada oportunidade que surgisse.
Quando isto aqui chega significa que os Estates já não necessitam de discurso humanitário para justificar o que seja de intervenção, ingerência, numa palavra - guerra. Não precisam de frases introdutórias nem de bálsamos paralisantes. Não querem mais perder tempo com negociações nem com instituições internacionais. São perigosos e querem mostrá-lo. São grandes e querem parecê-lo. Ninguém lhes faz sombra e sacam mais rápido do que qualquer outro em OK Cural.
O livrinho de Kagan não poderia ser mais oportuno: logo agora que os generais se preparam para a grande batalha com os persas. A nação perigosa vai novamente mostrar que a sua pericolosidade não se fica pelos esconsos da ideologia.

a propos, um ensaio muito bom do MPortas que se poderia intitular dez razões para ir para rua gritar. Antes que seja tarde.

2 Comments:

Blogger JOSÉ LUIZ FERREIRA said...

This comment has been removed by the author.

1:53 PM  
Blogger JOSÉ LUIZ FERREIRA said...

Parabéns pelo blogue. Cheguei aqui através do "esquerda.net" e vou incluí-lo na lista de ligações do meu blogue.

Quanto ao livrinho, já me deparei várias com ele nas minhas navegações pela Amazon e pela Barnes & Noble, mas ainda não me deu para o encomendar.

Abraço

1:57 PM  

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