Thursday, November 22, 2007

Beowulf

Beowulf, é um filme divertido que não suscita grande reflexão. Ficamos um pouco renitentes, sem conseguir decidir se a opção pela animação computorizada traz algo de novo ou se pelo contrário visa esconder uma fragilidade óbvia do filme: não ter capacidade – eventualmente, vontade - para agarrar no texto. E não falo do original, porque esse pouca gente tem. Mas acontece que ou se fazia qualquer coisa de especial com o poema Beowulf ou então a coisa redunda numa espécie de senhor dos anéis com animação computorizada. Mais dragão menos dragão; mais monstro demoníaco menos monstro demoníaco; mais Angelina Jolie nua ou menos nua (porque mais nua é impossível). Donde não se entende exactamente o porquê da animação computorizada? Para controlar custos? Pode ser.
Há outro exemplo recente que, para além do experimentalismo da iniciativa, não se chega a compreender a razão da opção. Refiro-me ao “A Skanner Darkly” the Richard Linklater, com Keanu Reeves e a excelsa Winnona Rider, adaptação do livro de Philip K. Dick. A história não tem propriamente grandes rasgos fantasistas; como ficção científica, não exige grandes cenários nem grandes efeitos especiais. Todavia, Linklater optou por retocar os seus actores com animação computorizada. Mas com que vantagem? Não se consegue perceber. Não há nada na história que não pudesse ser feito sem os efeitos da digitalização; a menos que a ideia tenha sido disfarçar as rugas de alguns actores. Com Beowulf passa-se sensivelmente a mesma coisa. A adaptação do poema podia ter sido feita como com as peças de Shakespeare, e então teríamos o aproveitamento de um poema épico em filme. Em vez disso, Zemeckis caiu na solução de Troia; só que ao contrário dos cenários grandiosos do segundo, deu-nos dragões e bruxas voadoras, e isto é claro que sai mais barato em computador do que recriando cenários reais. Em todo o caso, desemboca no mesmo problema de Troia de Petersen, ou seja, no esgotamento da especificidade do texto nos efeitos especiais. Se assim é não se percebe muito bem as razões pelas quais os dois épicos foram passados para a tela. Embora seja inegável que os actores de Beowulf estão longe do cabotinismo de Brad Pitt e de Orlando Bloom. Enfim, fica mais um filme com dragões e, especialmente para este, um monstro horrendo chamado Grendel. Daqui a uma semana já está esquecido.
Ah, é verdade, os mais crédulos dizem que Beowulf anuncia o futuro do cinema. Se for verdade, não augura nada de bom.

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