Could you please be silent, please?
Em 2002, o governo eleito da Venezuela foi deposto por um golpe, financiado em dólares americanos por um qualquer fundo para a promoção da democracia. Nessa altura o presidente Hugo Chávez foi obrigado a assinar a renúncia ao cargo sob ameaças à integridade física da sua família. Ainda antes dos golpistas tomarem posse já o governo Espanhol de Aznar reconhecia o novo governo de Caracas. Antes dos Estados Unidos, que foram o segundo. Coube a Portugal (o primeiro-ministro era então Durão Barroso) a vergonha de ser o terceiro. Não admira, portanto, que o Rei Juan Carlos o quisesse calado, uma vez que se estava perante uma acusação particularmente grave: a tentativa da Espanha devolver ao grande capital e ao imperialismo dos Estados Unidos os destinos políticos de uma das suas ex-colónias, através do derrube de um governo com enorme apoio das massas populares. Mas foi uma jogada de mestre, a de sua majestade. No dia seguinte, os meios de comunicação que estão nas mãos dos tubarões do capital (como o Público, ou o El Mundo) só falavam do incidente anedótico. Sobre as acusações de Chávez, nada. Que estas tenham sido feitas no seu estilo exuberante e hiperbólico, parece incomodar muito uma certa esquerda, preocupada em manter as aparências, e em respeitar as boas maneiras democráticas.
E de facto, como se sabe, sãos estas boas maneiras que convém observar nestas cimeiras, onde a regra é a busca de consensos alargados e vazios de significado, ou seja, onde toda o gesto político, como o de Chávez, será castigado. Como mostra a citação de Chávez no post do Nuno, o que este veio denunciar foi a vergonhosa cumplicidade com que gente como Aznar divide o Mundo entre os que têm e os que não têm. Por isso é que o gesto de Chávez é político, porque não só denuncia as desigualdades (o que até o Papa e Cavaco fazem), como também as explica pela exploração capitalista a que gente como Zapatero chama o mercado livre.
Daí que o mesmo Zapatero tenha tentado imediatamente exorcizar o espectro da política que Chávez fez pairar sobre aquela reunião. Como? Lembrando que Aznar tinha sido eleito pelo povo Espanhol. Um mantra que fez calar muita gente, mesmo simpatizantes de Chavez e críticos de Aznar. Nada impõe tanto respeito, por estes dias, do que a tal legitimidade democrática. No entanto, basta pensar um pouco fora dos chavões pseudo-políticos bombardeados pelos mâitres-a-(non)penser nos jornais e tv, para nos interrogarmos sobre porque é que uma acção há de ser subtraída ao julgamento apenas porque resultou de uma maioria num acto eleitoral? Na verdade, não nos passa pela cabeça dizer que o Harry Potter, que vende milhões, é melhor do que Beckett. Nem que o Rocky Martin é melhor do que Luigi Nono.
1 Comments:
Boa Bruno. É sempre bom uma resenhazinha histórica to put things into prespective.
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