Sunday, November 11, 2007

2.


Projectei-me como se um companheiro inexistente me estivesse a ultrapassar. Era o gosto de suar por coisas casuais. Havia também estas pregas de um lençol a que se comiam as bordas, sempre quando me custava a adormecer. E no entanto, quanto contentamento desmoronado se espalhou por ali.
Olhava para dentro – os ensinamentos do Buda apanhados pela vox populi – e ria-me. Ria-me com grande satisfação. É reconfortante podermos olhar para dentro e rir, principalmente se for com grande satisfação. Reconfortante e, também, ferido mortalmente por uma guinada não predestinada. O que estava para acontecer? Acometeu-nos (saímos a correr encostados ao corrimão; descemos imponderáveis por que não sabíamos o que dizer; e trouxemos para as nossas sombras as sanduíches de fiambre e mortadela que usávamos como hóstias pelas madrugadas dos sacrários) esse langor do poente: primeiro, baixando levemente como a mão que cata um bicho de detrás da orelha; logo em seguida, ruminante e meditabundo, secando os olhos de promessas indevidas, encendiando-se no seu próprio cárcere. Acometeu-nos um tremendo desejo de regressarmos almas e de dizermos que todas estas palavras eram exdrúxulas. Comecei: a ordem pela qual nos conhecemos, primeiro os sapatos, depois as roupas infiltradas de gente e, finalmente, as bocas cheias de vícios, só para nós era irreal. Para os outros desenhava um movimento simples, aproximando-se do planar de algumas aves quando absorvidas em constelações. Referes-te às estrelas? Não – a um corpo que se empresta.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home