El Rei desnudo
Sejamos coerentes. Se o rei de Espanha não manda calar ninguém quando Chávez é apodado de “ditador”, “pior que Hitler” ou “estalinista” ou o já habitual “caudillo” da imprensa espanhola , porque mandaria calar o mesmo Chávez quando este chama fascista a Aznar? Se a reacção do rei não é de tolerância e de apaziguamento entre todos os homens de boa-vontade, mas apenas uma reacção excessiva em relação a Chávez, a única conclusão possível é a de que o rei se sentiu particularmente atingido por estes comentários. Mas não foram estes dirigidos a Aznar? Foram. Então porque razão se abespinhou tanto o rei? Porque se sente solidário com Aznar.
Aznar não tem um grande portfollio a responder por ele. Opôs-se terminantemente à lei da reparação histórica. Fez finca-pé em relação à exumação dos cádáveres das vítimas repúblicanas do regime fascista de Franco. Tentou iludir as suas responsabilidades na guerra do Iraque mentindo descaradamente como aliás os restantes do triunviriato (mais um) da cimeira dos Açores. E finalmente induziu propositadamente em erro o Estado e a população espanhóis aquando do atentado bombista em Madrid.
Dizer que Aznar é fascista em Espanha é algo que não espanta ninguém. Zapatero não está a par da revista de humor El Jueves e dos seus dichotes sobre Aznar, levando bem para lá do implícito a associação entre o fascismo franquista e o ex-primeiro ministro? Para muitos espanhóis não suscita qualquer revolta afirmar que Aznar é um fascista. O contrário é que seria recebido com surpresa e desconfiança.
O contexto era diferente. Tratava-se de uma cimeira internacional, com a participação dos chefes de estado da América Latina e de Espanha. Zapatero saiu em defesa do seu antecessor na Moncloa. E fê-lo dizendo esta coisa extraordinária: que Aznar não podia ser assim tratado porque tinha sido eleito pelo povo espanhol. Extraordinário. Onde estava a filantropia de Zapatero quando usou e abusou (e bem) do estratagema do PP para inculpar a ETA e desviar as atenções da participação espanhola no Iraque? Nessa altura não foi propriamente brando (e bem) com Aznar. Porque razão se insurgiu ele tão veementemente com o comentário de Chávez?
A minha hipótese é que o fez porque se encontrava com o rei. É o rei de espanha o epicentro desta história; e foi também dele que as maiores ondas císmicas surgiram.
O raciocínio de Zapatero é patético. Se Aznar não pode ser apelidado de fascista porque foi (e é importante este pretérito) eleito pelos espanhóis, por maioria de razão Chávez não pode ser mandado calar pelo rei de espanha porque é (e é sobremaneira significativo este presente) o eleito democraticamente pelos venezuelanos. Donde, se Zapatero tem uma posição a tomar, teria que ser contra ambos: Chávez e rei.
Dêem-se as voltas que se derem, o argumento do plebiscito não colhe para questões de crítica política.
Agora, o virulento “cala-te” de Juan Carlos, esse possui ressonâncias mais interessantes. Primeiro, mostra que o rei sai em defesa de Aznar num aerópago internacional. Mas não devia ser ele independente? Segundo, mostra que o rei tem mais respeito por Aznar (líder pretérito) do que pelo actual presidente da Venezuela. Terceiro, mostra que o rei, símbolo da Espanha, trata as suas antigas colónias como se fossem actuais colónias, passando um responso ao líder dos nativos. Nada mais explícito do que as parragonas do El Mundo "El rey puso en su sitio a Chávez en nombre de los españoles", e do ABC "El rey no se calla". O rei de Espanha, a toda poderosa, põe no sítio Chávez o nativo venezuelano. A reacção do rei exemplifica muito simplesmente uma assimetria do insulto. Sim, o insulto também possui hierarquia. É isso que reafirmam as intervenções de Bush e Cheney em relação a Chávez. Talvez este último seja demasiado ingénuo, ou crédulo, por achar que as hierarquias são reversíveis apenas por vontade dos homens. Tem muito a ver com os sonhos utópicos da esquerda e com a sua ideia de mudança através dos actos, actos carregados de intenções políticas e libertárias.
E Zapatero? Recebeu agradecimentos de Aznar e assumiu a defesa da Espanha na resposta que foi dada a Chávez durante a cimeira. Mas defender Aznar é defender a Espanha? A Espanha que, como indiciam as declarações de Chávez, estaria a par do golpe de 2002, essa, eventualmente, tem Zapatero todo o interesse em proteger.
É que uma das coisas que foi pouco noticiada na porfia entre Chávez e Zapatero é que o último insurgiu-se contra a insinuação de que Aznar teria apoiado o golpe de estado de 2002. Foi neste contexto que Chávez chamou Aznar de “fascista e golpista” e que Zapatero lhe redarguiu que ele não devia tentar justificar os seus problemas com factores exteriores. Factores exteriores?
Lendo diversos jornais – porque hoje em dia para se obter uma informação minimamente objectiva é praticamente necessário construir um puzzle – ficamos com a sensação que as declarações de Zapatero e a erupção do rei são completamente despropositadas. O que devia ser uma acusação gravíssima, digna de escrutínio e de, já agora, perplexidade foi transformada num fait divers, num soluço diplomático. A versão jornalística coloca sempre Chávez na posição do labrosta que não se sabe comportar em cimeiras internacionais contra a ira real de um Burbon. E todavia, se há razões para suspeitar que Espanha tenha apoiado, através do governo de Aznar, a tentativa de golpe de estado contra Chávez em 2002, era caso para investigar seriamente; para questionar os responsáveis pelo governo da nação – pretéritos e actuais. Sobretudo porque o rei de Espanha é o responsável pela política externa do seu país. Mas se um rei não disse a verdade sobre o ataque ao Iraque porque o faria em relação a um golpe de estado na Venezuela?
Aznar não tem um grande portfollio a responder por ele. Opôs-se terminantemente à lei da reparação histórica. Fez finca-pé em relação à exumação dos cádáveres das vítimas repúblicanas do regime fascista de Franco. Tentou iludir as suas responsabilidades na guerra do Iraque mentindo descaradamente como aliás os restantes do triunviriato (mais um) da cimeira dos Açores. E finalmente induziu propositadamente em erro o Estado e a população espanhóis aquando do atentado bombista em Madrid.
Dizer que Aznar é fascista em Espanha é algo que não espanta ninguém. Zapatero não está a par da revista de humor El Jueves e dos seus dichotes sobre Aznar, levando bem para lá do implícito a associação entre o fascismo franquista e o ex-primeiro ministro? Para muitos espanhóis não suscita qualquer revolta afirmar que Aznar é um fascista. O contrário é que seria recebido com surpresa e desconfiança.
O contexto era diferente. Tratava-se de uma cimeira internacional, com a participação dos chefes de estado da América Latina e de Espanha. Zapatero saiu em defesa do seu antecessor na Moncloa. E fê-lo dizendo esta coisa extraordinária: que Aznar não podia ser assim tratado porque tinha sido eleito pelo povo espanhol. Extraordinário. Onde estava a filantropia de Zapatero quando usou e abusou (e bem) do estratagema do PP para inculpar a ETA e desviar as atenções da participação espanhola no Iraque? Nessa altura não foi propriamente brando (e bem) com Aznar. Porque razão se insurgiu ele tão veementemente com o comentário de Chávez?
A minha hipótese é que o fez porque se encontrava com o rei. É o rei de espanha o epicentro desta história; e foi também dele que as maiores ondas císmicas surgiram.
O raciocínio de Zapatero é patético. Se Aznar não pode ser apelidado de fascista porque foi (e é importante este pretérito) eleito pelos espanhóis, por maioria de razão Chávez não pode ser mandado calar pelo rei de espanha porque é (e é sobremaneira significativo este presente) o eleito democraticamente pelos venezuelanos. Donde, se Zapatero tem uma posição a tomar, teria que ser contra ambos: Chávez e rei.
Dêem-se as voltas que se derem, o argumento do plebiscito não colhe para questões de crítica política.
Agora, o virulento “cala-te” de Juan Carlos, esse possui ressonâncias mais interessantes. Primeiro, mostra que o rei sai em defesa de Aznar num aerópago internacional. Mas não devia ser ele independente? Segundo, mostra que o rei tem mais respeito por Aznar (líder pretérito) do que pelo actual presidente da Venezuela. Terceiro, mostra que o rei, símbolo da Espanha, trata as suas antigas colónias como se fossem actuais colónias, passando um responso ao líder dos nativos. Nada mais explícito do que as parragonas do El Mundo "El rey puso en su sitio a Chávez en nombre de los españoles", e do ABC "El rey no se calla". O rei de Espanha, a toda poderosa, põe no sítio Chávez o nativo venezuelano. A reacção do rei exemplifica muito simplesmente uma assimetria do insulto. Sim, o insulto também possui hierarquia. É isso que reafirmam as intervenções de Bush e Cheney em relação a Chávez. Talvez este último seja demasiado ingénuo, ou crédulo, por achar que as hierarquias são reversíveis apenas por vontade dos homens. Tem muito a ver com os sonhos utópicos da esquerda e com a sua ideia de mudança através dos actos, actos carregados de intenções políticas e libertárias.
E Zapatero? Recebeu agradecimentos de Aznar e assumiu a defesa da Espanha na resposta que foi dada a Chávez durante a cimeira. Mas defender Aznar é defender a Espanha? A Espanha que, como indiciam as declarações de Chávez, estaria a par do golpe de 2002, essa, eventualmente, tem Zapatero todo o interesse em proteger.
É que uma das coisas que foi pouco noticiada na porfia entre Chávez e Zapatero é que o último insurgiu-se contra a insinuação de que Aznar teria apoiado o golpe de estado de 2002. Foi neste contexto que Chávez chamou Aznar de “fascista e golpista” e que Zapatero lhe redarguiu que ele não devia tentar justificar os seus problemas com factores exteriores. Factores exteriores?
Lendo diversos jornais – porque hoje em dia para se obter uma informação minimamente objectiva é praticamente necessário construir um puzzle – ficamos com a sensação que as declarações de Zapatero e a erupção do rei são completamente despropositadas. O que devia ser uma acusação gravíssima, digna de escrutínio e de, já agora, perplexidade foi transformada num fait divers, num soluço diplomático. A versão jornalística coloca sempre Chávez na posição do labrosta que não se sabe comportar em cimeiras internacionais contra a ira real de um Burbon. E todavia, se há razões para suspeitar que Espanha tenha apoiado, através do governo de Aznar, a tentativa de golpe de estado contra Chávez em 2002, era caso para investigar seriamente; para questionar os responsáveis pelo governo da nação – pretéritos e actuais. Sobretudo porque o rei de Espanha é o responsável pela política externa do seu país. Mas se um rei não disse a verdade sobre o ataque ao Iraque porque o faria em relação a um golpe de estado na Venezuela?
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