O Palhaço útil
Chávez, como era previsível, acabou por sair chamuscado deste quid pro quo. Dois aspectos desta afirmação devem ser analisados mais aprofundadamente. Como era previsível: porque actualmente pode mentir-se, falsificar provas, desobedecer a instituições internacionais e às suas decisões, que nada acontece. Mas se se quebra aquele equilíbrio estabelecido pela retórica internacional, se se fura aquele consenso amolecido do vago e do rotineiro, a que estamos habituados a assistir nas intervenções dos nossos líderes (e nos dos outros) então aí torna-se uma falha imperdoável; falha essa que as instituições que têm por função evitar que ela seja revelada, rapidamente se reorganizam para a transformar no “fenómeno”. Isto porque a discussão política está reduzida a banalidades e lugares comuns; a evocações trôpegas do funcionamento democrático e a abstracções suporíferas respeitantes ao Estado de Direito. É nesta retórica consensual, porque de tal forma aplanada que não deixa margens para o desacordo, para a dissensão, que a maioria do que é tomado por discurso político público nos é ofertado. Claramente, estas palavras de circunstância não são as que interessam. Estes argumentos de fachada não são os que contam. Aqueles que fazem a diferença, são os discutidos em privado no rancho de Bush entre, por exemplo, Aznar e o Presidente norte-americano. Aqueles onde nos é revelada que dois líderes mundiais tinham a sua própria agenda e que se estavam simplesmente borrifando para as opiniões do seu eleitorado. Ah, o eleitorado, essa palavra esmagadoramente purosa (perdoe-se a antinomia, mas é desta que é feita a poesia); esse conceito dúctil que se verga às imprevisíveis (ou nem tanto) torções da designada “opinião pública”. Que não tem nada de pública, certamente não no sentido em que colectivamente fundada e debatida, mas apenas merece o nome porque é publicada. A opinião pública é portanto aquela que é publicada.
E aqui chegamos ao segundo aspecto do afaire Chávez. O que foi publicado sobre o homem. Esta sujeição de um presidente à redução ao homem é já um golpe bem planeado pela tal opinião publicada. Por exemplo, o rei teve uma fúria real, e estas só os reis podem ter; não é partilhada tal capacidade que assiste apenas ao suzerano. Por isso as palavras de Chávez foram tantas e tantas vezes taxadas de inoportunas, desabridas, enquanto a reacção do rei não passou de uma real fúria. Assim temos o sangue azul ainda a correr pelas veias da opinião publicada.
Mas um circo não é circo sem palhaços. Desabafa o Daniel, que esse palhaço, Chávez, que anda a desvirtuar o nome da esquerda internacional, com as suas atoardas e falhas comportamentais (educação, entenda-se) se comportou como um farsante. E o bom do Daniel, que não desvirtua a esquerda internacional, tece loas a Zapatero, que honrou o nome da Espanha e soube comportar-se como lhe compete numa cimeira internacional. Leia-se, fugiu à questão e enveredou pela banalidade ou, neste caso, pelo complexo da “donzela ofendida” provocando assim, uma tanto inteligente como deliberada, manobra de diversão.
Não sei se Chávez é de facto um palhaço. Sei no entanto que aquilo que era uma acusação séria e digna de influenciar a “opinião pública”, mas talvez avessa à “opinião publicada”, foi transformada numa palhaçada. Zapatero parece-me que teve mão nesse desfecho. E se há sempre dois palhaços que contracenam numa arena de circo, então, diria que a Zapatero lhe coube o papel do palhaço útil.
Porque afinal, o que disse Chávez foi isto:
Hugo Chávez (sobre Aznar). En Venezuela, yo recuerdo 1999. Fui invitado a la Casa Blanca, al FMI, fui a darle al martillo aquel de Wall Street, porque me hicieron una campaña de captación como quién enamora a una mujer... Yo le hice a Aznar una pregunta: ¿Y qué opinas de Haití, de esos países? Porque tú dices que Venezuela tiene petróleo y puede ir al primer mundo y que yo me podía sumar al club, que cambiará el discurso. Y le preguntó "¿Y Haití, y Centroamérica, y África? Pido perdón a la opinión pública por la palabra, pero Aznar me dijo: "Chávez, esos se jodieron". Aquel hombre reveló allí todo el rostro horrible del fascismo, racismo, y todo lo demás. Por supuesto, nosotros en Venezuela seguimos nuestro camino y no entramos a ese club. Porque somos humanos, y los fascistas no son humanos. Tienen forma humana, pero no son humanos. Creo que una serpiente es más humana que un fascista o que un racista. Un tigre es más humano.
Retire-se o lirismo tosco da intervenção de Chávez e alguém tem dúvidas de que ele tenha razão?
E aqui chegamos ao segundo aspecto do afaire Chávez. O que foi publicado sobre o homem. Esta sujeição de um presidente à redução ao homem é já um golpe bem planeado pela tal opinião publicada. Por exemplo, o rei teve uma fúria real, e estas só os reis podem ter; não é partilhada tal capacidade que assiste apenas ao suzerano. Por isso as palavras de Chávez foram tantas e tantas vezes taxadas de inoportunas, desabridas, enquanto a reacção do rei não passou de uma real fúria. Assim temos o sangue azul ainda a correr pelas veias da opinião publicada.
Mas um circo não é circo sem palhaços. Desabafa o Daniel, que esse palhaço, Chávez, que anda a desvirtuar o nome da esquerda internacional, com as suas atoardas e falhas comportamentais (educação, entenda-se) se comportou como um farsante. E o bom do Daniel, que não desvirtua a esquerda internacional, tece loas a Zapatero, que honrou o nome da Espanha e soube comportar-se como lhe compete numa cimeira internacional. Leia-se, fugiu à questão e enveredou pela banalidade ou, neste caso, pelo complexo da “donzela ofendida” provocando assim, uma tanto inteligente como deliberada, manobra de diversão.
Não sei se Chávez é de facto um palhaço. Sei no entanto que aquilo que era uma acusação séria e digna de influenciar a “opinião pública”, mas talvez avessa à “opinião publicada”, foi transformada numa palhaçada. Zapatero parece-me que teve mão nesse desfecho. E se há sempre dois palhaços que contracenam numa arena de circo, então, diria que a Zapatero lhe coube o papel do palhaço útil.
Porque afinal, o que disse Chávez foi isto:
Hugo Chávez (sobre Aznar). En Venezuela, yo recuerdo 1999. Fui invitado a la Casa Blanca, al FMI, fui a darle al martillo aquel de Wall Street, porque me hicieron una campaña de captación como quién enamora a una mujer... Yo le hice a Aznar una pregunta: ¿Y qué opinas de Haití, de esos países? Porque tú dices que Venezuela tiene petróleo y puede ir al primer mundo y que yo me podía sumar al club, que cambiará el discurso. Y le preguntó "¿Y Haití, y Centroamérica, y África? Pido perdón a la opinión pública por la palabra, pero Aznar me dijo: "Chávez, esos se jodieron". Aquel hombre reveló allí todo el rostro horrible del fascismo, racismo, y todo lo demás. Por supuesto, nosotros en Venezuela seguimos nuestro camino y no entramos a ese club. Porque somos humanos, y los fascistas no son humanos. Tienen forma humana, pero no son humanos. Creo que una serpiente es más humana que un fascista o que un racista. Un tigre es más humano.
Retire-se o lirismo tosco da intervenção de Chávez e alguém tem dúvidas de que ele tenha razão?
1 Comments:
Chávez tem toda a razão. É preciso é que não a perca de futuro. E que se consiga manter à tona de àgua. O imperialismo tem o braço longo.
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