Nojo
Vi as imagens que me disseram para ver. Vi as imagens e tentei dar a ver. Um disse-me que não tinha tempo e que era facilmente impressionável; outra disse-me que não podia ver miúdos baleados e a sofrerem. É dificíl dar a ver. Ninguém quer ver. A injunção de Celan “Vai e vê” fica apenas pelo vai – vai-te embora, vou-me embora, fui-.me embora, etc. Que espécie de consciência fugidia é esta que não quer ver?
E, todavia, as bombas caiem, as pessoas morrem inceneradas, os miúdos são baleados, as atrocidades acontecem.
Vejo o sorriso de Rice na primeira página de um jornal internacional. Vejo os ditos cínicos, viciosos e hipócritas – há alguém que detecte anti-semitismo nisto? Pois que seja...- do primeiro ministro de Israel: controlem o Hezbolla. Sim controlem, para os podermos exterminar melhor. E vejo na televisão turca os hospitais mal apetrechados; pessoas a chegar com membros esfacelados por uma bomba incendiária, outros a serem despejados de barcos e a serem levados em cadeiras de rodas, outros com partes do corpo que deixaram de existir espalhados pelas ruas de Beirute; e o pânico, o terror, o medo, na cara dos Libaneses que não sabem o que fazer no meio das avenidas derruídas. Vejo isto tudo - na televisão turca, vejam bem. Porque o Ocidente da liberdade mostra-nos antes as duas vítimas dos atentados terroristas em Haifa. E do outro lado, na Cisjordânea, uma mulher chora porque voltaram a matar-lhe os filhos, os que restavam (e quando é que pararam de lhos matar?) e as casas estão destruídas em derredor, e os palestinianos morrem novamente.
E vejo na televisão turca aquilo que não vejo nas televisões europeias, embora um paranóico comentador de ocasião jure que existe uma conspiração jornalística contra Israel. Conto os mortos no Guardian e não consigo compreender quando me dizem que é uma resposta equilibrada e justa da parte de um país que foi atacado.
Vejo Rice e Bush afirmar que talvez seja prematuro para um cessar fogo e vejo Blair e Bush rirem em conferências de imprensa e mais tarde voltarei a ver a Aljazira com as fotografias das crianças libanesas soterradas nos escombros de Beirute.
Vejo tudo isto. Vejo por mim, pelos outros que não quiseram ver, por aqueles que nunca verão.
O Nojo que me consome tem uma ordem: Israel, América, mundo livre.
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