Friday, July 28, 2006

Africanistas



Das contribuições para o estudo das relações inter-étnicas e para a formação identitária dos imigrantes são a destacar os trabalhos de Pena Pires e de Machado Pais. Para além do reconhecido mérito teórico e metodológico dos dois investigadores há um segundo eixo que possuem em comum - e de forma que dir-se-ia, aguerrida – e que é o facto de ambos os investigadores sentirem particular desconforto com a cor da pele. Dito assim parece uma boutade simplista e ignorante. Mas olhando mais de perto, para aqueles que estão familiarizados com os seus trabalhos, não pode deixar de notar-se que grande parte do seu esforço académico – e não só – culmina numa tentativa de “branquiamento”, Duas das últimas intervenções dos autores aqui considerados servirão para ilustrar este ponto.

Primeiro, FLM e uma recente reconceptualização do termo “segunda geração de imigrantes”. É de notar que estas piruetas conceptuais, que devem mais ao ócio do academismo do que propriamente a avanços científicos, são comuns na sociologia da imigração portuguesa e encontram-se particularmente associadas ao discurso em torno da integração dos imigrantes. A respeito do termo segunda geração propõe FLM que se substitua por filhos de imigrantes. Segundo o investigador os imigrantes partilham mais com a sociedade portuguesa do que aquilo que o isolamento conceptual do termo “segunda geração” admitiria; principalmente, porque já não são imigrantes. Isto é a lógica da batata: não são segunda geração, porque já não são imigrantes, mas são filhos de imigrantes porque, fora da condição imigrante, mesmo que apenas dos pais, não sabemos como denominá-los. Ou seja, se a lógica fosse levada ao limite ficaríamos sem objecto sobre o qual conceptualizar. Mas o que é que se ganha em chamar à segunda geração de imigrantes “filhos de imigrantes”? Aparentemente, nada. A mesma reificação que é temida – e podem ter a certeza que é o discurso da reificação que serve tenebrosamente como pano de fundo – surge duplicada na expressão “filhos de imigrantes”. A uma porque nos relembra as continuidades geracionais (algo que FLM quer evitar ou pelo menos condicionar a outros factores) simbolizada em expressões como a “filha da peixeira”; a outra porque, e isto é que é curioso e paradoxal, nega a própria especificidade de uma segunda geração de imigrantes que o termo “segunda geração” encerra. E porque é que, perguntamo-nos, o termo serve para os Portugueses – a geração mais jovem, a geração mais velha, a segunda geração após o 25 de Abril, etc- e não serve para imigrantes? Estranho. Consequentemente, dizer que porque já não são imigrantes não faz sentido falar-se em “segunda geração” pode ser também aplicado à expressão filhos de imigrantes – se já não o são porquê referir-lhes a paternidade?

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Machado Pais e FLM?

8:21 PM  

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