“Like a man waking in a grave”
The Road é romance estranho, oblíquo na sua mensagem e difícil de empatizar às primeiras. Fotografia cinzenta e árida, num crescendo de dor, desespero e solidão, eis o correr da Estrada que não acaba nem segue para nenhum lado. É o livro que agarra na tipicidade do road trip americano e o vira de pernas para o ar. Dir-se-ia que o sonho americano não encontra resgate na Estrada. O velho “on the road” como visão do pioneirismo da descoberta do homem de acção, do aventureirismo do self-made man, não tem equivalente no “The Road”. Por isso arrisco ver (ler) no livro uma crítica ao modelo americano tal qual o conhecemos. Há uma catástrofe que tem a dimensão do mundo. Há um país devastado do qual não há salvação. Mas sobretudo há um deambular sem destino aparente, e mesmo que esse destino chegue é só para confirmar que o deambular tem que ser forçosamente permanente. A transumância do cowboy? Não há vastos prados a perder de vista, nem linhas do horizonte como promessas adiadas. O cinzento, opaco, do ar carregado de cinzas apenas mostra que a conquista chegou ao fim: o sol mal vislumbrado por entre a cortina de sujidade irrespirável em que o ar se tornou; o mar no seu mortal ulular já sem vida para além do movimento das vagas. Não há esperança. O antigo território de fronteira de que falava Kenedy tornou-se no asfixiante espaço do medo e da desolação. América, América para onde foste que até os homens se comem uns aos outros?
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