Wednesday, August 01, 2007

Arquitectura terrífica

Nada parece mais claro como simbolização desta herança obscura do que o aproveitamento cénico dos velhos complexos industriais. Quer em Hostel1 e 2 quer em Severance existe um crisol donde saem e vivem estas bestas demoníacas, e este é, tal como o vespeiro que se encontra desprevenidamente nos passeios florestais, o velho complexo industrial da arruinada indústria comunista. Este funciona como as casas vitorianas funcionavam para os filmes de terror dos anos 50 e 60 e para todos aqueles que posteriormente neles se inspiraram, como Amitiville se inspirou no The Hauting, etc. O que as casas vitorianas partilham com os complexos industriais é o facto de nelas existir algo latente que quando é colocado em contacto com o exterior provoca a morte. Seja pela vingança de um crime que ficou por punir seja, no caso dos complexos industriais, por um mal que não foi absorvido pela reorganização social. Se a casa vitoriana anuncia um passado que não foi absorvido, espécie de remanescência nobre que assombra – literalmente – a família burguesa; o complexo industrial em ruínas, devoluto e doravante inútil, anuncia a vitória dessa mesma burguesia. A mensagem que ambos os cenários traduzem é a da intemporalidade da luta de classes; que esta só possa ser expressa através de uma imagem maligna deriva-se directamente da falsa consciência burguesa.

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