Do Atoleiro das Directas sem passar pela Aljubarrota das nacionais
Na contenda pela direcção do PSD, o mais interessante não foram os contendores, foram as tentativas tanto frustes como cómicas de resgatar um dos pretendentes ao lugar. Neste contexto, dois nomes são particularmente assinaláveis: Pacheco Pereira e VGM. Raras vezes se terão visto esforços tão desmedidos quanto infrutíferos para salvar um candidato consensualmente medíocre. E esta empresa foi levada a cabo pelos dois maiores intelectuais do partido em questão. Foi notório o esforço propagandista no incensar sistemático de Marques Mendes por estes dois membros do PSD, quer nas suas contribuições jornalísticas quer nas prestações blogosféricas. Mas é ainda mais surpreendente quanto esta toada celebratória e de adulação quase divina se tornou tanto mais insistente quanto se aproximavam as directas no PSD. Quando é que vimos Graça Moura tecer loas tão desproporcionadas a alguém - que não seja a ele mesmo -, a algum companheiro de partido ou lider partidário? Nem com Cavaco me recordo de tal euforia encomiástica.
Todavia, a saliência destes momentos não advém das características do candidato em questão, mas sim, e por contraste, da míngua delas. Era difícil convencer alguém que Marques Mendes tivesse porte para ser mais do que o líder que (se) segura (a)o timão, por mais que seja obrigado a bolinar, na travessia do deserto que todos os partidos enfrentam em momentos de crise. Assim como era evidente o desencontro carismático entre um António Guterres e um Ferro Rodrigues, também Marques Mendes, apesar das enfáticas – e desequilibradas – moratórias de extrema confiança por parte dos dois intelectuais social-democratas, fica bem aquém do pressuposto carisma de Cavaco. Mas aqui o problema agudiza-se: porque Marques Mendes vem apenas rematar uma já longa lista de personalidades do PSD que falham retumbantemente o teste do carisma. Bem sei que o carisma é uma herança pré-moderna, que pouco tem a ver com os processos gestionários de que se serve a política actual. Contudo, convém não substimar a importância, mesmo no mais enfadonho tecnocrata – como foi Cavaco no início – desta emulsão carismática onde devem ser mergulhados os líderes que o pretendem ser ou continuar a ser. Foi, parece-me, essa a função cumprida pelos dois intelectuais - e agora já posso utilizar o termo -, orgânicos do PSD – uma invenção de carisma onde apenas se vislumbrava o cinzentismo do homem do aparelho partidário.
A tentativa de reconstruir um Marques Mendes com postura de Estado contra um Filipe Menezes populista, de pouca confiança, mais afecto a "taticismos" e golpes de manga, colidiu com a imagem que todos conheciam de Marques Mendes. Se houve alguma coisa que popularizou um Marques Mendes aparelhista, um yes man da hierarquia partidária, um oportunista sem escrúpulos, foi essa fantasia da cena política nacional chamada Contra-informação. O aspecto “popularucho” do programa não nos deve enganar. Ali ficou bem vincada a imagem do que era e o que poderia ainda vir a ser Marques Mendes: o subalterno que grita “ganda nóia” cada vez que o chefe tem uma ideia brilhante. Esta impressão estava bem viva no eleitorado português, e inevitavelmente no eleitorado do PSD. A tentativa de reformular este estigma pecou, se tanto, por tardia. De repente, Pacheco Pereira e Vasco Graça Moura, reinventam um Marques Mendes à imagem do Santo Condestável, de um Aquiles que é capaz de morrer pela oposição ao tirânico governo sócrates. A Aljubarrota de Marques Mendes vir-se-ia a saldar em fracasso e nem sequer chegou a opô-lo ao seu arqui-inimigo José Sócrates – nem sequer chegou a ser uma Aljubarrota, portanto. Em verdade, ficou pelo atoleiro das directas no PSD onde, mais uma vez, e contrariamente ao seu epígono, o Condestável, sofre aqui vergonhosa derrota. O “basismo” dizem-nos PP e VGM, esse monstro de sete cabeças, a turba desenfreada que não conhece a autenticidade e infalibilidade da elite; foi o “basismo” de Filipe Menezes que provocou a derrocada de São Mendes. Até pode ter sido. Agora o que não pode é ser escovado para baixo do capacho como se tratasse de um epifenómeno resultante do populismo de Menezes. Se as bases apoiaram Menezes contra o candidato favorito da intelligentzia isso significa que as bases já não confiam nos palpites da intelligentzia. E nem é difícil perceber porquê. Pacheco Pereira e VGM teriam que explicar o seu silêncio comprometido aquando da fuga de Durão para o Brasil actual: a União Europeia. Ainda hoje, Pacheco Pereira maldiz a sorte do seu partido por ter entronizado Santana Lopes, omitindo sagazmente, que foi Durão quem percipitou a situação ao optar por uma exemplar cooptação sucessiva ao bom estilo dinástico. Durão desaparece do horizonte de sentido dos dois plumitivos – quão conveniente. É má prática não olhar para as lições da história, como Santayana nos avisou. Porque se quisermos retraçar a história de uma crise ela leva-nos inevitavelmente à desistência de Durão. Desconfio que as bases não ficaram contentes; desconfio que ainda hoje sublimam o abandono do pai sem perceberem o porquê desta quebra de solidariedade. É claro que a intelligentzia também não lhes conseguiu explicar. A orfandade das bases do PSD tem clamado por um pai adoptivo vezes sem conta. As respostas têm sido as mais das vezes canhestras, e as bases resolveram escolher Menezes with a vengeance.
Todavia, a saliência destes momentos não advém das características do candidato em questão, mas sim, e por contraste, da míngua delas. Era difícil convencer alguém que Marques Mendes tivesse porte para ser mais do que o líder que (se) segura (a)o timão, por mais que seja obrigado a bolinar, na travessia do deserto que todos os partidos enfrentam em momentos de crise. Assim como era evidente o desencontro carismático entre um António Guterres e um Ferro Rodrigues, também Marques Mendes, apesar das enfáticas – e desequilibradas – moratórias de extrema confiança por parte dos dois intelectuais social-democratas, fica bem aquém do pressuposto carisma de Cavaco. Mas aqui o problema agudiza-se: porque Marques Mendes vem apenas rematar uma já longa lista de personalidades do PSD que falham retumbantemente o teste do carisma. Bem sei que o carisma é uma herança pré-moderna, que pouco tem a ver com os processos gestionários de que se serve a política actual. Contudo, convém não substimar a importância, mesmo no mais enfadonho tecnocrata – como foi Cavaco no início – desta emulsão carismática onde devem ser mergulhados os líderes que o pretendem ser ou continuar a ser. Foi, parece-me, essa a função cumprida pelos dois intelectuais - e agora já posso utilizar o termo -, orgânicos do PSD – uma invenção de carisma onde apenas se vislumbrava o cinzentismo do homem do aparelho partidário.
A tentativa de reconstruir um Marques Mendes com postura de Estado contra um Filipe Menezes populista, de pouca confiança, mais afecto a "taticismos" e golpes de manga, colidiu com a imagem que todos conheciam de Marques Mendes. Se houve alguma coisa que popularizou um Marques Mendes aparelhista, um yes man da hierarquia partidária, um oportunista sem escrúpulos, foi essa fantasia da cena política nacional chamada Contra-informação. O aspecto “popularucho” do programa não nos deve enganar. Ali ficou bem vincada a imagem do que era e o que poderia ainda vir a ser Marques Mendes: o subalterno que grita “ganda nóia” cada vez que o chefe tem uma ideia brilhante. Esta impressão estava bem viva no eleitorado português, e inevitavelmente no eleitorado do PSD. A tentativa de reformular este estigma pecou, se tanto, por tardia. De repente, Pacheco Pereira e Vasco Graça Moura, reinventam um Marques Mendes à imagem do Santo Condestável, de um Aquiles que é capaz de morrer pela oposição ao tirânico governo sócrates. A Aljubarrota de Marques Mendes vir-se-ia a saldar em fracasso e nem sequer chegou a opô-lo ao seu arqui-inimigo José Sócrates – nem sequer chegou a ser uma Aljubarrota, portanto. Em verdade, ficou pelo atoleiro das directas no PSD onde, mais uma vez, e contrariamente ao seu epígono, o Condestável, sofre aqui vergonhosa derrota. O “basismo” dizem-nos PP e VGM, esse monstro de sete cabeças, a turba desenfreada que não conhece a autenticidade e infalibilidade da elite; foi o “basismo” de Filipe Menezes que provocou a derrocada de São Mendes. Até pode ter sido. Agora o que não pode é ser escovado para baixo do capacho como se tratasse de um epifenómeno resultante do populismo de Menezes. Se as bases apoiaram Menezes contra o candidato favorito da intelligentzia isso significa que as bases já não confiam nos palpites da intelligentzia. E nem é difícil perceber porquê. Pacheco Pereira e VGM teriam que explicar o seu silêncio comprometido aquando da fuga de Durão para o Brasil actual: a União Europeia. Ainda hoje, Pacheco Pereira maldiz a sorte do seu partido por ter entronizado Santana Lopes, omitindo sagazmente, que foi Durão quem percipitou a situação ao optar por uma exemplar cooptação sucessiva ao bom estilo dinástico. Durão desaparece do horizonte de sentido dos dois plumitivos – quão conveniente. É má prática não olhar para as lições da história, como Santayana nos avisou. Porque se quisermos retraçar a história de uma crise ela leva-nos inevitavelmente à desistência de Durão. Desconfio que as bases não ficaram contentes; desconfio que ainda hoje sublimam o abandono do pai sem perceberem o porquê desta quebra de solidariedade. É claro que a intelligentzia também não lhes conseguiu explicar. A orfandade das bases do PSD tem clamado por um pai adoptivo vezes sem conta. As respostas têm sido as mais das vezes canhestras, e as bases resolveram escolher Menezes with a vengeance.
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