Tuesday, December 04, 2007

Porcos no espaço


O texto do Pedro Arroja publicado pelo Arrastão, suscitou reacções diversas, desde a apreensão até à ira. Porém, a mais estranha, conquanto mais convencional, foi a de dizer que não vale a pena discutir o que diz este senhor, porque as suas opiniões nem sequer são dignas de discussão.
Todas as opiniões são dignas de discussão; sobretudo as mais perigosas. No texto de PA o que menos interessa, a meu ver, são as suas opiniões sobre a homossexualidade. Não são surpreendentes e integram-se naquilo que alguém chamou de articulação ideológica. Em traços largos, o palavrão tem o condão de sinalizar que se alguém é racista, antisemita, conservador, nacionalista, tem uma forte probabilidade de ser homofóbico e outras atitudes assimptóticas. Poder-se-ia dizer que é uma variação da escala de personalidade autoritária de Adorno.
O que interessa no texto do PA prender-se-á sobretudo com a ciência económica e com a sua ambição (desmesurada?) em encontrar uma racionalidade trans-histórica. PA não é um simplório (embora tenha ideias que o façam parecer), não é um John Do a quem ninguém reconhece autoridade. PA é uma figura pública; teve participações radiofónicas e televisivas; e quando apareceu – ainda me lembro – veio envolto numa aura de enfant terrible da economia – um economista intelectual contra o mainstream. Por isso dizer, deixem lá esse senhor, que ele coitado...não colhe como sendo a melhor atitude.
A ideia de uma racionalidade trans-histórica, em muitos economistas, serve-se de uma teoria auxiliar; que só aparentemente lhe é auxiliar. Na verdade, é a da racionalidade que é auxiliar dessa outra, cujo pronunciar do nome faz qualquer incauto tremer e cuja autoridade se tornou inquestionável: a teoria da evolução darwiniana.
Reparem que os economistas quando querem explicar o que se encontra subjacente em modelos cujo mobil é a racionalidade (trans-histórica) recorrem, acto contínuo, à teoria da evolução; mais especificamente ao seu mais importante postulado, a selecção natural. Parece que sem esta última, a pressuposta racionalidade desmoronar-se-ia como um frágil castelo de cartas. Ora bem, não sendo biólogo nem especialista na teoria da evolução, daquilo que vou lendo, fico com a sensação que os economistas têm uma vulgata. Esta vulgata funciona grosso modo como a sua precedente marxista: é gazua que enfia em qualquer buraco; abre qualquer fechadura. E, por esse facto, ficamos sempre satisfeitos com os resultados. Contudo, quem percebe destas questões, tem muitas dúvidas sobre esta vulgata. De tal forma, que as interpretações mais recentes vão num sentido muito mais heterogéneo, bem mais dubitativo, do que a linearidade da vulgata parece assumir.
Cabe perguntar se não era já tempo de alguns economistas começarem a interrogar a sua vulgata que fazem passar por ciência séria e por explicação universalista? (sem que isso signifiqu recorrer aos exageros das teorias da discursividade=identidade, nem à culturalização extremada das práticas). É que se calhar os porcos não têm asas porque um porco voador causaria grande desconforto aos colegas.

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