Thursday, August 09, 2007

O fantasma ainda circula


A propósito da questão do (não) referendo ao tal tratado de Lisboa, com que os governos se preparam para aprovar o recauchutado tratado constitucional, duas vezes chumbado nas urnas, escreve o Nuno: “Nenhum dos tratados anteriores foi referendado. Muito pouca gente se lembrou de protestar porque o tratado de Mastrich não foi referendado, ou Amesterdão, ou Nice; (…)” Ó Nuno, ninguém? Sabes perfeitamente que não é assim, que houve quem protestasse, não houve é quem o fizesse no chamado “arco do poder” e no exército de acólitos mediáticos que os vão legitimando. Os outros não contam? São invisíveis? Esta invisibilidade é precisamente um dos meios de construção do consenso à volta de certas questão, nomeadamente (mormente, diria) a Europa, que foi sendo retirada do espaço das escolhas, a ponto de que a participação no consenso sobre a construção europeia é condição sine qua non para receber o selo de responsabilidade política e, como é óbvio, aspirar ao tal arco do poder. O caso do CDS-PP é, a este nível, exemplar. Agora o Nuno que não venha dizer que a oposição não existiu. Ou pior ainda, que não foi relevante. Evitemos dar força de facto aos desejos de governos e comunicação social.
Mas mais espantoso é que estejas disposto a dar de bandeja uma das poucas vitórias eleitorais da esquerda: a vitória do “Não” nos referendos ao tratado constitucional na França e na Holanda. Dizes que os referendos foram um estrategema para chumbar o tratado. Então porque é que, pelo menos em França, os partidos do poder e os chamados meios de comunicação social de referência se uniram todos em volta do sim? A desproporção do espaço mediático ocupado pelo “Sim” e pelo “Não” foi muito maior para a primeira posição. E porquê? Porque os que fizeram e promoveram o tratado queriam que ele chumbasse? E a ser assim, porque é que querem agora aprovar um tratado semelhante, mas desta vez sem referendo?

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