Número mágico
Repego num caso que já andou pelas bocas do mundo. JMF, numa das suas crónicas do público, denunciou a sua apetência pelo Harry Potter em detrimento de um Proust. A crónica rezava mais ou menos assim: vou para férias, levo os 7 calhamaços do Harry Potter e pode ser que dê cabo deles; infelizmente tenho os outros 7 do famigerado “Em busca do tempo perdido”, pendentes no filofax, arquivados em assuntos pretensamente urgentes mas adiáveis sine die, rematando, “mesmo que isso me valha o opróbrio da blogosfera” (não cito, concito).
Alguns criticaram-no porque acharam que JMF estava a passear o seu narcisismo pelo jornal que dirige, dizendo-lhe na cara que ninguém estaria interessado nas peculiaridades do seu intelecto reveladas, até de forma algo desabrida, pela sua preferência por literatura mágica, que aliás o próprio se apressa a desmentir, dizendo na referida crónica “não sou grande adepto de literatura mágica”. Quem o acusa de ter mais olhos que barriga, por achar que as suas preferências literárias são de pouco cabimento dentre as discussões ilustradas da blogosfera, replica o mesmo narcisismo, academismo porventura, certamente agonismo cultural, dos impenitentes defensores da postura highbrow, e dos estratagemas de fechamento a que estes são afectos. Pois se não houve gato esmifrado que não escarrapachasse as suas preferências literárias num exercício de sinergia cultural vomitado recentemente por essa mesma blogosfera (e que ainda decorre), por que seriam tão dispiciendas as preferências literárias de JMF? Pesos e medidas.
Falham o entanto o essencial, e mais uma vez, pregando eu no deserto, mas João, o Baptista, também por lá andou antes de perder a cabeça, terei que ser eu a chupar a medula à questão. O enigma que a crónica de JMF encerra não é o de que ele queira que falem dele na blogosfera, como alguns vexados por esse insólito desiderato (afinal não é qualquer um que tem a honra de lhe prestarem exéquias na blogosfera) pareceram subentender. A razão de fundo da sua crónica é o 7. Sete por sete leio o rapaz da varinha de condão que me parece bem mais divertido do que o Proust. O que JMF se deve ter congratulado, enquanto redigia denodadamente a sua crónica, com esta simetria de saberes. E há até algo de mágico nisto: se Proust recriou um seu alter ego em sete volumes (embora Nabokov jure que entre Marcel e Proust existe muito pouco em comum para além da homonomia), JK Rolin recriou o dos adultos yuppies ou de espírito mais imponderável, noutros sete. O fenómeno da equivalência não passou despercebido a JMF, assim como não tinha passado aos primeiros cabalistas. A dificuldade, ou melhor, o desafio literário, acaba reduzido, segundo o génio interpretativo de JMF, ao número de calhamaços: tenho aqui estes 7 do Proust, mas levo antes os outros 7 da magia. Engana-se JMF, porque os 7 do Proust são bem mais leves do que os outros 7 – nós é que nos convencemos do contrário. Isto porque, fazendo a prova ao Harry Potter, “setes” fora nada!
Alguns criticaram-no porque acharam que JMF estava a passear o seu narcisismo pelo jornal que dirige, dizendo-lhe na cara que ninguém estaria interessado nas peculiaridades do seu intelecto reveladas, até de forma algo desabrida, pela sua preferência por literatura mágica, que aliás o próprio se apressa a desmentir, dizendo na referida crónica “não sou grande adepto de literatura mágica”. Quem o acusa de ter mais olhos que barriga, por achar que as suas preferências literárias são de pouco cabimento dentre as discussões ilustradas da blogosfera, replica o mesmo narcisismo, academismo porventura, certamente agonismo cultural, dos impenitentes defensores da postura highbrow, e dos estratagemas de fechamento a que estes são afectos. Pois se não houve gato esmifrado que não escarrapachasse as suas preferências literárias num exercício de sinergia cultural vomitado recentemente por essa mesma blogosfera (e que ainda decorre), por que seriam tão dispiciendas as preferências literárias de JMF? Pesos e medidas.
Falham o entanto o essencial, e mais uma vez, pregando eu no deserto, mas João, o Baptista, também por lá andou antes de perder a cabeça, terei que ser eu a chupar a medula à questão. O enigma que a crónica de JMF encerra não é o de que ele queira que falem dele na blogosfera, como alguns vexados por esse insólito desiderato (afinal não é qualquer um que tem a honra de lhe prestarem exéquias na blogosfera) pareceram subentender. A razão de fundo da sua crónica é o 7. Sete por sete leio o rapaz da varinha de condão que me parece bem mais divertido do que o Proust. O que JMF se deve ter congratulado, enquanto redigia denodadamente a sua crónica, com esta simetria de saberes. E há até algo de mágico nisto: se Proust recriou um seu alter ego em sete volumes (embora Nabokov jure que entre Marcel e Proust existe muito pouco em comum para além da homonomia), JK Rolin recriou o dos adultos yuppies ou de espírito mais imponderável, noutros sete. O fenómeno da equivalência não passou despercebido a JMF, assim como não tinha passado aos primeiros cabalistas. A dificuldade, ou melhor, o desafio literário, acaba reduzido, segundo o génio interpretativo de JMF, ao número de calhamaços: tenho aqui estes 7 do Proust, mas levo antes os outros 7 da magia. Engana-se JMF, porque os 7 do Proust são bem mais leves do que os outros 7 – nós é que nos convencemos do contrário. Isto porque, fazendo a prova ao Harry Potter, “setes” fora nada!
(quero deixar aqui registado que não atribuo qualquer importância à leitura dos sete do Proust – para além do inefável prazer literário de os ler -, e muito menos aos sete da JKR, embora os últimos sejam adaptáveis ao cinema, e os primeiros, ao sê-lo, revelaram-se uma catástrofe de dimensões suporíferas. Sejamos absolutamente contemporâneos, à falta de modernidade).
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