Beatriz no segundo círculo do Inferno
I. Do terraço podia ver-se quase a cidade toda. Não era mentira o que lhe prometera. E por isso sentia-se levitar. Levava as palavras à boca como Cristo levou o cálice na última ceia: flectidas e derrubadas. Cansou-se então de olhar e murmurou, esperando ser compreendido apenas por uma outra boca, aquela que equidistante lhe ficava na direcção da carne: amar, convém que se pergunte depois de todos os sonhos terminarem. Descansou por fim num leito onde a voz já não aspirava a dizer.
II. Ontem andávamos apaixonados. Corríamos as ruas com calos nos dedos de tanto nos sopesarem enquanto engordávamos com o peso dos ninhos. Ontem eramos amantes, e sacrificávamos animais serenos aos deuses desprevenidos que encontrávamos em fontes não poluídas de desejos incertos. Vogávamos numa barca cheia de rostos a quem multiplicávamos – porque assim nos satisfazia – as expressões. e alguns sumir-se-iam caso lhes dissessemos que por ali passavam cavalos a toda a brida.
Que o medo conspurca a alegria saberás tu; com que receios enlevados de memórias entristecidas te abandonaste.
Que o medo conspurca a alegria saberás tu; com que receios enlevados de memórias entristecidas te abandonaste.
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