Monday, August 06, 2007

Tens alguns dias de atraso


Vou cometer uma heresia, mas tenho que confessar que não consegui entusiasmar-me com o tão badalado Everyman, Todo-o-Mundo,
Acho que o livro é de uma banalidade penosa. Roth é um escritor e pêras, quanto a isso estamos conversados; sabe da poda, sabe introduzir a frase exacta para dar solidez ao texto, e etc. Mas o Everyman nem convence como panegírico da dificuldade em “dizer adeus” – como alguns afirmam – nem como um relato sobre o sufoco da proximidade da morte. Fico com a sensação que é demasiado americano, demasiado esquemático, demasiado apressado. Como exemplo de um mergulho bem mais conseguido nas águas glaucas da morte fico-me pelo belo “A Morte de Ivan Illich” que na sua mais despida linguagem consegue melhor transmitir a degenerescência do corpo e a sua inexorabilidade.
O Everyman de Roth é uma variação sobre o mesmo tema que o autor tem escalpelizado até à exaustão. Desde Human Stain, passando por Dying Animal e chegando ao Everyman o que é que temos senão a proximidade da morte e a sua inelutabilidade enredada na progressiva atrofia da sexualidade e no fantasma da impotência? Só quem saltou os últimos trabalhos do autor é que pode ficar maravilhado com esta sua incursão por terra de há muito desbravada. E o que é que tínhamos anteriormente, no “Portnoy´s Complaint” e no “My life as a man”, senão os problemas em comer gajas e como fazê-lo? Reduzindo o Roth à sua expressão mínima – o que não é apenas uma violência como é uma injustiça, mas seja – podemos dizer que primeiro era “o que fazer com a tusa?” e para o fim “o que fazer sem tusa?”.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home