Thursday, August 09, 2007

Uns e outros


Vou revelar um segredo: fui eu que disse ao Nuno que ele era um anti-anti-PS. Glosava Sartre e a sua afirmação de que é necessário ser anti-anti-Comunista. Aqui a dupla negação não corresponde a uma afirmação. Tal como Sartre de certa forma se distancia do comunismo, nomeadamente da forma que era então hegemónica na Europa, também acredito que o Nuno não se identifique com as políticas deste governo. Agora, parece que sempre que o governo é criticado, ele prefere atacar o PSD. Ou porque o PSD fez a mesma coisa quando era governo, ou porque fez ainda pior. Mas a questão é mesmo essa: nada distingue politicamente os dois partidos. Aliás, o actual governo está mais à direita do que muitos governos do PSD. Comparado com o executivo de Sócrates os governos de Cavaco Silva até parecem de esquerda. No fundamental tem havido uma continuidade de políticas entre os governos dos dois partidos. E o mesmo se tem passado por essa Europa fora com a esquerda da terceira via.
E porque é que o governo de Sócrates está mais à direita do que os do PSD que o precederam? Porque o processo de neoliberalização está mais avançado. Porque cada vez mais e mais abertamente se governa para propiciar negócios aos privados. É também por isso que o próximo governo, PS ou PSD, vai ser o mais à direita. Tal como o governo de Blair foi mais longe do que o de Thatcher na defesa do mundo dos negócios.
Faz mal a esquerda em procurar suplementos de alma no PS. Em dizer-se decepcionada pelo PS ser como o PSD. Está na altura de acreditar no que todos dizem. Que os dois partidos são, politicamente, iguais. É claro que ambos se esforçam por realçar putativas diferenças. Para Pacheco Pereira é o ímpeto reformista do PSD que falta ao PS. Para os do PS é a boa-vontade social que falta ao PSD. No fundamental distinguem-se as clientelas.
O Nuno diz que no PSD a identificação com os interesses económicos é total enquanto que no PS não é, e que essa diferença pode criar espaço de manobra para outras políticas. Quanto à primeira condição não sei se é assim se não é. O que eu sei é que desde o 25 de Abril o cadastro do PS fala por si: FMI, fim da reforma agrária, criação do recibo verde, privatizações, até chegarmos à política de terra social queimada deste governo. O PSD, como lhe compete, diz que o governo não é suficientemente reformista. Tal como o PS na oposição diz que o PSD não é social o suficiente. É na oposição que se constrói a tão afirmada diferença que contrasta com a continuidade quando estão no governo. Existem diferenças entre os dois? Existem, pois. E quais é que são? Não interessam rigorosamente para nada.

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