A morte do Sr. Seu pai...
Fico baralhado. Há diversos elogios à forma humana como a entrevista foi conduzida por Mário Crespo. A maneira sincera como Crespo, nas suas palavras, se tornou um confidente de Lobo Antunes confidenciando-lhe que estava apavorado. Lobo Antunes pergunta sorridente: Porquê? Um sorriso quase maternal a aflorar-lhe os lábios: deixa que a mamã te vai levar à injecção; não tenhas medo que é só uma pica...
O homem está sedento para discutir literatura. O brilho que lhe assoma à face quando se dispõe a dizer umas coisas sobre Conrad. Mas não. Literatura, qué lá isso? Interessa é o homem!, ou melhor "a persona" como Mário Crespo não se cansa de repetir.
Porque razão atemorizam as entrevistas com Lobo Antunes? Porque ele não quer falar dele e estão sempre a pressioná-lo para o fazer.
Quantas mais baboseiras se podem perguntar ao melhor escritor português sobre o ofício de escrever? Quantas mais banalidades sobre o pai e a relação com a família? Imaginam um entrevistador a sério a perguntar a Roth ou a Coeetze ou a Banville ou a Garcia Marquez, mas olhe, e tem medo? Claro que teve, pois, na guerra; mas e mais, tem mais medo? E zanga-se muitas vezes com deus? E ainda está zangado ou já fez as pazes? E paga a crédito ou a pronto? E quando mija, é pó ar ó é pa baixo? O Crespo, sabe que, eu desde que estive doente, já só mijo pa baixo. É os afectos, percebe. Os homens quando se aproximam da morte começam a mijar fininho. Ah, sim claro, isso está relacionado com a morte do Sr. Seu pai. Sabe, o senhor é nosso rei e a morte é indistinta: tanto mata baratas como rainhas. Pois, eu também tive um medo da morte em África que me borrei. Quatro anos, ham! Quatro anos de farnel aviado e ala pela brenha - os nativos, que gente maravilhosa. Não posso deixar de lhe perguntar, afinal pagam-me para isso: e o Saramago, acha que consegue mijar mais longe do que o Sr. Não sei, porra, só sei que Jesus Cristo é o Sr e que se acordo a meio da noite, sem ser pela tesão, mas à procura de uma vírgula - uma que seja, o meu reino por uma vírgula! - ao cabrão do Saramago isso não deve acontecer, porque o gajo semeia-as como quem asperge espermatezóides pa dentro de uma vagina. Engraçado, sabe o Sr quisso me faz lembrar o Pollock, o Jackson Pollock - esse aspergir anárquico. Ah sim, pois a mim faz-me lembrar cancro na próstata; como esse grande homem, o Viriato Sepúlveda, um homem do caneco; um filantropo - um homem só é homem quando puxa o autoclismo.
O meu nome é legião, o novo romance de Lobo Antunes. Não resisto a perguntar-lhe: sobre que fala o seu próximo romance? Qual? O que acabei de escrever há 2 dias, entre a consoada e a passagem do ano? Não, não: - o futuro; o inexistente; o vindouro; o que está por vir...
aguardo esperançadamente uma entrevista a Lobo Antunes sobre literatura. O homem é escritor, porra!
(o link na fotografia dá para a entrevista da SIC)
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