Monday, May 22, 2006

O qué candas a ler?




O qué cando a ler?

Para quem se interessa por questões ligadas com "raça" e etnia saiu o ano passado (mas só agora tive oportunidade de o ler) "Not Just Black and White". Tinha que vir dos States: novas abordagens, sínteses teóricas inovadoras, trabalho empírico a questionar conclusões anteriores, escrito pela nata da academia que trabalha neste campo. Bem diferente do bafio da teoria europeia, que se repete até a exaustão e que já há alguns anos que não oferece nada de relevante. Compilação de artigos que traz aragem nova e mais respirável.

Mergulho no "A Brief History of Neoliberalism" do impar David Harvey que mais uma vez consegue a proeza de escalpelizar o mundo actual sem que fiquem muitas questões por levantar. Se alguém tinha dúvidas que as grandes narrativas estavam bem vivas e recomendavam-se é ler este livro. Neoliberalismo como resposta às actuais dinâmicas do mercado? Não -diz Harvey-, o neoliberalismo levou tempo a construir e foi preciso minar muitas das conquistas sociais anteriores para que este se impusesse como ideologia e prática dominante. Não aconteceu por acaso e não é uma resposta às novas exigências da competitividade. A resposta é bem mais singela: o neoliberalismo é somente uma forma de recuperar o poder perdido (muito parcialmente) das classes dominantes. Se alguém tinha dúvidas é ler este livro. Muito, muito bom.

Espreitadela no mais recente Fukuyama. Para literatura de cordel não está mal; e se nos quisermos afiançar de que os neocons são uns hipócritas sinistros e manipuladores é espreitar (a saltar) este livro. Parece que o Fukuyama teve um rebate de consciência e zangou-se com a linha dura dos neocons. Parece que foi surpreendido pela política externa americana em relação ao Iraque. Há cada um mais distraído! Que raio de altura para se converter à crítica do neoconservadorismo. Mas quer isto dizer que Fukuyama deixou de ser um conservador? Nãooooo. O teórico do fim da história só está desiludido porque não há uma verdadeira estabilização democrático-liberal no Iraque como o seu mais famoso livro tinha prometido como panaceia universal. Isso, e claro, o facto de estarem a morrer soldados americanos no Iraque, o que estraga qualquer tentativa de convencer o eleitorado que aquilo ainda faz sentido.
A tresler em simultâneo com o David Harvey para se ganhar consciência de quão repugnantes são os neocons.

Juan Rámon Jimenez - Antologia poética.
O problema é meu. Desconhecia-o para além de alguns poemas ocasionais lidos em antologias de poesia espanhola. Lírico ainda assim, sorvendo melancolias e flores silvestres, Jimenez descrevendo o amor porque o viveu e quem mais se aproxime dele talvez um Neruda que com certeza aí colheu inspiração. E a Espanha aqui tão perto.

Finalmente, em tempos de obsessão Da Vinciana, entre anagramas e pentagramas, esferas armilares e sementes divinas, talvez fosse avisado prestar atenção a um já antigo ensaio de Erich Fromm que dá pelo nome de "O Dogma de Cristo". Para aprender por que razão o Código Da Vinci não é aquilo que parece ser.

1 Comments:

Blogger brunopeixe said...

A respeito do livro do harvey: alguma vez as classes dominantes perderam o poder? Ou dito de outro modo, alguma vez o equilíbrio de poder que permite a existência de dominantes e dominados foi posto em causa por aquilo que os liberais (não é preciso neo que eles são velhos como a sé) querem agora tirar?

4:06 AM  

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