E poi se move
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Lendo as declarações de António Barreto -sociólogo estimado-, o artigo de Baptista Bastos - prosador admirado -, e a crónica de VGM, poeta consagrado, não nos podemos deixar de perguntar o que se passa dentro de tão luminosas cabeças? A pergunta sugere apreensão, e é justamente disso que se trata: vivemos em fascismo; detestamos a aplicação da lei e achamos o governo Sócrates o pior de sempre: eis, em resumo, as posições dos nossos plumitivos e intelectuais.
É verdade que a opinião dos intelectuais não expressa a do povo, ou da população se preferirem. Também é certo que por vezes existe um abismo inultrapassável entre os primeiros e o resto das pessoas. Todavia, mesmo que esta não seja a expressão de uma maioria, é, sem margem para dúvidas, a expressão de um espectro alargado da intelligentsia nacional – um leque de opiniões política e intelectualmente diverso.
Porque é que esta crítica abrangente é preocupante? Primeiro, porque não é honesta. VGM, que não é usualmente brando quando se trata do cumprimento da lei, deu-lhe para um certo lascismo blasé em relação às regras da ASAE. Por sua vez, A. Barreto, sociólogo admirado por razões que a razão desconhece (mas elas existirão – como as bruxas) diz que este governo coarcta as liberdades individuais como nunca nenhum outro o fez; e lá assoma o espectro do fascismo – num frenesim que não tem ponta por onde se lhe pegue – com novo fôlego e roupagem. Finalmente, Baptista Bastos, eventualmente por razões complexas – como sejam o seu papel ingrato de homem de esquerda num jornal de direita, por vezes do mais retrógrado e néscio que existe – vai ajudando à festa no e dando umas sarrafadas no punch bag socrático.
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É pois na esteira desta reacção bizantina à lei do tabaco que aparece o artigo de VGM. Só por hipocrisia é que um deputado do Parlamento europeu pode achar que a ASAE sofre de excesso de zelo naquilo que faz. Só por distracção se pode levar a sério GM no seu repto anti-asae. A ASAE cumpre, pela primeira vez, a aplicação de parâmetros mínimos, e é um deus nos acuda porque nos vão roubar as tascas e o queixo fresco coalhado entre as mãos da Dª Filismina que não as lava depois de ir ao cagadouro. Estamos convencidos, e é esse um dos argumentos de Graça Moura, que isto, porque é muito típico, muito pitoresco, exótico, sei lá, é bom para o turismo. Errado. A maior parte do turismo não gosta de estar a levar com moscas em cima da salada, ou ver baratas a passear pelas paredes com o empregado a persegui-las com um guardanapo, mas de fino linho.
Os turistas querem encontrar o mesmo conforto que encontram à porta de casa quando descem as escadas para irem andar de bicicleta nas ruas de Amesterdão, Bruxelas, Viena ou Budapeste…desde que tenham uma nesga de mar onde molhar os pezinhos. Isto é o turismo europeu hoje em dia. Ninguém mais está para gramar com bolos cheios de moscas ou cadeiras partidas só porque é (pretensamente) típico, tipish, very typical…O caraças! São ideias de chéchés – ai umas tasquinhas, pobrezinhos e honrados: que bonito que é o meu Portugal com as velhinhas cheias de buço a corarem o queixinho picante! Não há cu. Deixam a ASAE trabalhar!
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