Monday, January 14, 2008

Chabrol e a sua musa

Saturday, January 12, 2008

Ubiquidade confuciana

Friday, January 11, 2008

A vida dos ricos.


No Dubai...

Última Posta


Não sei se será a minha Última Posta mas não pude resistir ao Ultim’Atum.

Já caí no olvido da blogosfera portuguesa pelo que me move mais o direito ao contraditório. Para que conste em acta já contribui com um post(inho) e não há colaborações recentes minhas noutros blogues(Por recente entenda-se um período superior a um ano, dois meses e dezanove dias). Vejo-me assim ilibada da pena em que poderia incorrer por concorrência desleal e espionagem industrial. A minha apatia face a blogosfera é tal que já nem me lembrava da password, já nem leio blogs, nem mesmo os de esquerda! O Qualquer é talvez o único que revisito de quando a quando para saber se o Nuno Castro está vivo e o que lhe vai pela cabeça. E sem dúvida que vou sabendo! Meu caro, citando a acta congratulo-o pelo ‘ritmo, verve e qualidade’ com que nos vem brindando.

And now for something completely different: Deixem a ASAE trabalhar faz-me lembrar o tempo do outro senhor! Tudo o resto subscrevo. Cansam-me estes burgueses, da esquerda e da direita, que vão beber chá a Londres e fazer compras a Paris e apregoam o quão típico é beber ginginha em copos sujos, comer couratos fritos em óleos saturados e ir a tascas em que as facturas são assim uma espécie de alínea c) do Art.º 48 do Modelo B e Impresso A\19 de tal forma ininteligível que ainda não chegaram ali. Mas porque é que hão-de chegar? Onde fica o tradicionalismo? É tão giro ir ao campo e ver como eles ainda são tão atrasados! Claro que se estivermos a falar em falta de hospitais e serviços de saúde aí o caso muda de figura e já devemos dar porrada no governo. Claro que aí temos que estar à altura dos melhores! Não há pachorra para aqueles que são pelo “populareco” porque é típico!
A polémica que a ASAE tem suscitado faz-me lembrar a famosa “Tolerância Zero”. Aqui, e só aqui , meus amigos, a lei é para cumprir!! Desta vez não vamos fechar os olhos! Pergunto-me como é que um país com um regime jurídico-legal tão pesado está tão pouco habituado a cumprir leis. Diria que é mais uma daquelas coisas “só para inglês ver”.

Bom, este post foi um bocado de batota. Deveria antes estar dividido em dois comentários a posts do Nuno Castro. Mas quem sabe a Direcção fecha os olhos, à boa moda portuguesa, e faz uma adaptação aos inexistentes estatutos do Qualquer e o meu nome sempre se aguenta aqui pelo menos por mais um ano dois meses e dezanove dias.

Thursday, January 10, 2008

E poi se move

Há qualquer coisa que paira sobre Portugal. E não, não é o espectro do comunismo.
Lendo as declarações de António Barreto -sociólogo estimado-, o artigo de Baptista Bastos - prosador admirado -, e a crónica de VGM, poeta consagrado, não nos podemos deixar de perguntar o que se passa dentro de tão luminosas cabeças? A pergunta sugere apreensão, e é justamente disso que se trata: vivemos em fascismo; detestamos a aplicação da lei e achamos o governo Sócrates o pior de sempre: eis, em resumo, as posições dos nossos plumitivos e intelectuais.
É verdade que a opinião dos intelectuais não expressa a do povo, ou da população se preferirem. Também é certo que por vezes existe um abismo inultrapassável entre os primeiros e o resto das pessoas. Todavia, mesmo que esta não seja a expressão de uma maioria, é, sem margem para dúvidas, a expressão de um espectro alargado da intelligentsia nacional – um leque de opiniões política e intelectualmente diverso.
Porque é que esta crítica abrangente é preocupante? Primeiro, porque não é honesta. VGM, que não é usualmente brando quando se trata do cumprimento da lei, deu-lhe para um certo lascismo blasé em relação às regras da ASAE. Por sua vez, A. Barreto, sociólogo admirado por razões que a razão desconhece (mas elas existirão – como as bruxas) diz que este governo coarcta as liberdades individuais como nunca nenhum outro o fez; e lá assoma o espectro do fascismo – num frenesim que não tem ponta por onde se lhe pegue – com novo fôlego e roupagem. Finalmente, Baptista Bastos, eventualmente por razões complexas – como sejam o seu papel ingrato de homem de esquerda num jornal de direita, por vezes do mais retrógrado e néscio que existe – vai ajudando à festa no e dando umas sarrafadas no punch bag socrático.
Ora o que aqui faz confusão pode ser abordado transversalmente ou tomando isoladamente cada um destes “fazedores de opinião”. Comecemos pelo “fascismo” do governo Sócrates. A minha opinião é que caminhamos para um fascismo “doce”, suave, mas não pelo governo Sócrates; antes é a sociedade portuguesa que paulatinamente envereda por aquilo que Boaventura designou de fascismo societal. É importante ter isto em mente, porque a desculpa mais fácil e mais confortável é assacar as responsabilidades deste “fascismo doce” ao governo Sócrates. A meu ver, não cabe a este as culpas de uma tal situação; ou pelo menos é absurdo atribuir-lhe a causa de uma noção totalizante como é a de fascismo. A haver causas encontram-se na sociedade portuguesa, resultado de uma multiplicidade de factores, que estão, a meu ver, ainda por descortinar e expor. Se VGM e Baptista Bastos podem ser eximidos da culpa de um tal erro de apreciação, já Barreto, enquanto sociólogo (mas mau, em minha modesta opinião) não o deverá ser. Tem obrigação de fornecer mais do que atoardas e frases bombásticas sem nenhuma base de sustentação. E não é, repito, que a sociedade portuguesa não esteja paulatinamente a descaracterizar-se enquanto uma democracia onde as pessoas podem contar com os seus direitos de cidadania, e mais, almejar a reforçá-los ou mesmo a aumentá-los. É assustador o que se passa em Portugal, mas a desculpa mais eficaz é relegar a culpa, inexpiável, para o governo Sócrates.

A questão da lei, possui uma natureza diferente, mas entronca igualmente com o problema anterior. Quanto a esta houve recentemente duas reacções interessantes. A reacção contra a lei do tabaco roça a imbecilidade, e é tanto mais burgessa quanto é veiculada por outros tantos honrados membros da intelligentsia portuguesa. Isto não pode ser um país sério, onde tanta discussão é suscitada por causa de uma lei que tem todo o cabimento e que já tardava. E eu (que não fiquem para aí a cismar que sou um taliban do anti-tabagismo) sou fumador. Mas a lei parece de uma tal lógica cristalina, duma tal oportunidade razoável, que nem merece comentários. Pois surgiram eles, em catadupas, dos mais inverosímeis aos mais capciosos. Esta demonstração de revolta é, quanto a mim, uma manifestação do pequeno egoísmo da sociedade portuguesa, que, apesar de opiniões e análises em contrário, será das sociedades mais individualistas da Europa. Um individualismo pobretanas, medíocre, e maldoso. Tenho cada vez menos dúvidas disso.
É pois na esteira desta reacção bizantina à lei do tabaco que aparece o artigo de VGM. Só por hipocrisia é que um deputado do Parlamento europeu pode achar que a ASAE sofre de excesso de zelo naquilo que faz. Só por distracção se pode levar a sério GM no seu repto anti-asae. A ASAE cumpre, pela primeira vez, a aplicação de parâmetros mínimos, e é um deus nos acuda porque nos vão roubar as tascas e o queixo fresco coalhado entre as mãos da Dª Filismina que não as lava depois de ir ao cagadouro. Estamos convencidos, e é esse um dos argumentos de Graça Moura, que isto, porque é muito típico, muito pitoresco, exótico, sei lá, é bom para o turismo. Errado. A maior parte do turismo não gosta de estar a levar com moscas em cima da salada, ou ver baratas a passear pelas paredes com o empregado a persegui-las com um guardanapo, mas de fino linho.
Os turistas querem encontrar o mesmo conforto que encontram à porta de casa quando descem as escadas para irem andar de bicicleta nas ruas de Amesterdão, Bruxelas, Viena ou Budapeste…desde que tenham uma nesga de mar onde molhar os pezinhos. Isto é o turismo europeu hoje em dia. Ninguém mais está para gramar com bolos cheios de moscas ou cadeiras partidas só porque é (pretensamente) típico, tipish, very typical…O caraças! São ideias de chéchés – ai umas tasquinhas, pobrezinhos e honrados: que bonito que é o meu Portugal com as velhinhas cheias de buço a corarem o queixinho picante! Não há cu. Deixam a ASAE trabalhar!

Poemas da minha vida 1

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.
(a sequência será arbitrária; o número não assinala uma escala de valoração. Irei postando os poemas da minha vida da maneira que me aprouver)

Tuesday, January 08, 2008

O grande Satã

Chama-se a isto guerra de palavras. Só que não é exactamente assim. Os americanos estão cada vez mais desleixados. Foram atacados pela guarda republicana iraniana (e nós aqui bem sabemos como o confronto com a guarda republicana pode ser traumatizante – física e psicologicamente) que os abordou, literalmente (à abordagem!) no estreito de Ormuz. Ora nós não só sabemos tudo sobre a guarda republicana, nossa conterrânea, como sobre o estreito de Ormuz, onde andámos em tempos de antanho à sarrafada com o Turco Mameluco. Estes porém não são turcos, e detestam a mera menção a uma pressuposta genealogia. Na realidade, a navy norte-americana foi abordada por persas – povo que tem mais pergaminhos históricos e bem melhor cotados no mercado da história universal (já experimentou ir a Petrópolis? E a Isphaan? Então experimente).
Estava-se neste entrementes de choque civilizacional, a cumprir professias portanto, não arreda nem desgruda, diriam alguns mais dados ao vernáculo, quando eis que o persa iníquo vem pela calada, insinuando-se com a bonança dos ventos, e zás: toma lá acto hostil. Isto diz a CNN que é deus na terra e mafoma na umma (ou será a Aljazeera?). Mas dizia, surge um comandante da navy, iracundo, mas sem nunca perder a fleuma como convém aos comandantes de carreira anglo-saxónicos (a ira estava subentendida nos olhos) e diz que sem margem para dúvidas foram atacados; ou pelo menos, um tal acto, dentro da lógica da guerra preventiva, se não foi um ataque poderia ter sido, e é nesta cláusula dubitativa que devemos sustentar o novo exercício da guerra.
Pois bem, reza a história – a americana, porque da outra apenas conhecemos farrapos, desmentidos, justificações fragmentárias que ninguém em seu juízo perfeito aceitava face value (prima facie, como acharem melhor) – que umas lanchas da guarda republicana (eles lá ainda vão tendo lanchas para patrulhar a costa, nós tivemos que dar o cu – literalmente – para ter um submarino), mas perco-me, dizia portanto, que os contratorpedeiros norte-americanos foram abordados por lanchas da guarda republicana iraniana – prenúncio de conflito! Os iranianos, que são dados à porfia e têm maus fígados, pusseram-se a insultar os norte-americanos pela rádio. Ora chamando-os carniceiros ora acusando-os de falta de respeito pelos povos indígenas. Isto do insulto e da ameaça, foi dito pelo tal comandante que apareceu ontem à noite na CNN em pose de estadista, bismarkiana diríamos, a relatar os acontecimentos. Por azar só podemos fiar-nos nas palavras do dito comandante, porque por alguma contingência técnica, não havia gravações das tais ameaças rádio-comunicadas (um pouco como a caixa negra desaparecida do avião que se esfumou em bocadinhos em espaço aéreo norte-americano naquele aziago September eleven).
Porém, este encontro não ficou pelo insulto bárbaro e despropositado. Continuou o comandante a relatar que os tais malfadados (e igualmente mal fardados) guarda republicanos tinham atirado com umas caixas brancas para a água. Bombas! Minas de profundidade! Mas também aqui apenas podemos fazer profissão de fé das palavras do comandante, visto que a navy não se preocupou em investigar o que seriam essas caixas brancas. Podiam bem ser frigoríficos; sobras da última campanha de Valentim Loureiro em Gondomar. Carregados de coca-cola, pois então, em jeito de represália comercial: não queremos água suja do imperialismo! Ora toma!
Digam lá se, depois de tudo bem pesado e medido, era isto razão para o deflagrar de uma guerra contra os persas? A administração Bush está em pulgas para que assim seja.
Ou talvez não. Talvez seja tudo mais simples, descomplicado e singelo.

Los precios del petróleo subieron unos 30 centavos, a más de 98 dólares el barril, después del reporte de la CNN, con los analistas citando un mayor riesgo de interrupciones de cargamentos de crudo a lo largo de esta ruta clave.
Diz a Reuters...

Monday, January 07, 2008

Ultim' Atum

Chegou a hora da verdade. Apela-se aos dois colaboradores ausentes, Tiago Ralha e Edite Rosário, para que postem, sem falta, no decorrer de uma semana. Findo este período (de nojo?) e não tendo sido acatada a obrigação, os seus nomes serão apagados do “blogue qualquer” caindo assim, irremediavelmente, no olvido da blogosfera portuguesa e quiçá internacional. O desconhecimento deste repto, assim como da lei, não os exime ao cumprimento do exposto.

Acta da reunião

Aos dias sete do mês de Janeiro de 2008 foi acordado em assembleia geral que os colaboradores Tiago Ralha e Edite Casanova não estabvam a cumprir as funções que lhes competem, designadamente postar regularmente em “O blogue qualquer”.
Sendo que “regularmente” não vem definido nos estatutos inexistentes deste blogue entende-se por tal um período que não ultrapasse um ano – forma generosa de considerar o que deve ser regularidade a que o “Qualquer” se gaba de ter introduzido por forma a flexibilizar o tempo dos seus colaboradores ajustando-o ao exercício da escrita.
Entende-se igualmente que nem todos podem ter o mesmo ritmo, verve e qualidade que o colaborador Nuno Castro vem demonstrando. Por esse facto, foi decidido em assembleia geral que lapsos temporais não superiores a oito meses e dezassete dias seriam tolerados. Posteriormente dilatou-se o prazo para um ano. Ora, transcorrido um período de um ano, dois meses e dezanove dias, foi decidido que a situação se tornara intolerável e que deveria ser dada por terminada a colaboração que, afinal, não chegou a existir, dado que nem um só (um-inho) post foi postado neste blogue pelos dois citados. Todavia, sabe-se de colaborações noutros blogues, que se calhar nem pagam tão bem como este, ficando assim coberta a figura de concorrência desleal e espionagem industrial.
Julga-se saber também que nem o primeiro citado nem o segundo sofrem de qualquer doença mental, nem foram recentemente sujeitos a uma lobotomia, ou passaram por uma intervenção cirúrgica incapacitadora, de forma a diminuí-los inexoravelmente impossibilitando-lhes o exercício da escrita.
Por outro lado, um blogue de esquerda que se preze – como este se vê a ele próprio – tem que ser pensado como um colectivo, isto é, exigindo o esforço de todos os seus colaboradores. Sem esta compreensão da centralidade do colectivo, os colaboradores não podem sentir-se ou sequer participar numa iniciativa que se pretende de esquerda – mesmo que seja de uma esquerda qualquer.
O mesmo é válido para o décimo quinto signatário do presente aviso, o colaborador Bruno Peixe, que embora contribuindo esparsamente para o blogue qualquer não tem materializado na sua completude aquilo que ele, e outros, gostariam de chamar de “democratização da escrita”. Todavia, o caso deste colaborador afigura-se diferente, posto que lá tem enseminado este blogue com ideias e discussão, conquanto, diga-se em abono da verdade, de forma aleatória e pouco interessada. Pelo exposto, não fica portanto abrangido pelo presente aviso.
Pelos factos aduzidos atrás, concluiu-se que um ultimatum seria a melhor forma de chamar à pedra os colaboradores agora visados. Assiste a estes, contudo, um período de uma semana para requererem desta decisão sem que esta transite em julgado.

Com os melhores cumprimentos

A administração

Até que a morte o separe...

Este blogue é admissivelmente chato. O qualquer está lá para desviar atenção – nem isto é do qualquer nem os quaisqueres que por vezes por cá passam são indignos de menção. O que não nega que o blogue seja chato, chatíssimo. O que ele não é – e isso podem indignar-se à-vontade, crispar os dedos em furibunda rebelião ou matar-se para o infirmar -, exactamente, o que ele não é, é cagão (e sabemos bem como esta expressão tem sido abusada as mais das vezes por esses mesmos cagões encartados que pululam por aqui e por ali). O que é ser cagão? É dizer isto, atente-se: O Francisco publica uma lista de restaurantes que, ou optaram por fumo total, ou por áreas de fumo. Prova provada de que a norma legal cede à decisão dos proprietários. Algumas dessas moradas fazem parte do meu circuito: Gambrinus, Olivier, Pizzeria Lucca, Solar dos Presuntos, Vírgula, e também El Corte Inglés (o do sétimo piso), todos em Lisboa. E, no Porto, o Cafeína. E no cuzinho, não gosta? Entre cagalhão entalado e nariz empinado, que venha o esfíncter e diga de sua justiça. Ora este blogue pode ser muita coisa (por vezes tem frases que não lembram ao cornudo, num desmando meio eclético, que não aquece nem arrefece) mas cagão é que ele não é. Porque um cagão, quer seja em palavra escrita quer em verbo afivelado na garganta, faz sempre por parecer que o é. Nem isto merece grande espantação, ou não fosse a cagança o alimento do pedante - a cagança é o estrume onde medra o desprezo. Mas que raio, o desprezo pelos outros? Não, o cagão anda em alcateias, nisto de cheirar cuzinhos, acompanham-se todos, uns aos outros, e à vez, pela brenha, como bonitos lobinhos. Por isso, o cagão não caga em tudo nem em todos; tem afinidades electivas, como diria o outro, com quem partilha a cagança em festival de grande cagança, pois então!
Digo que anda para aí muito panasca e fressureira a lamberem os cus uns dos outros. Nem me vou pôr a cismar em tão aviltante acto – isto é Portugal e Portugal, já dizia o mui antigo mestre, ressuma a cagamerdeira. Teremos pois tendência coprofílica, essa bem inscrita na nossa história, deixada, coloco à apreciação de Vocência, pelos muitos anos (qual quê? Séculos, é que foi!) de convivência com a moirama, que é bem sabido, por alguns não-ditos e desditos do Pinto, o Fernão, que era dada a encavar cristãos.
Por isso se houver cabrão que para aqui venha deixar mensagens a acusar o blogue de ser chato, afiance-se que um dos seus autores – o presente escriba – concorda perfeitamente. Agora, cagão é que ele não é!
(fica aqui a minha singela homenagem ao Luiz Pacheco – paz à sua alma. Não é fiel ao original? Nem sequer lhe chega aos calcanhares? Pois se calhar não; mas o original é inimitável, nem eu pretendo imitá-lo, arremediá-lo, sim, mas imitá-lo?, nem pensar – percebem a diferença? É que também me estou a cagar…Lembrar sempre: "pãozinho, srs do surrealismo, pãozinho!")

Thursday, January 03, 2008

A rua e os meandros da luta


E se bem que este texto seja muito interessante, ficaram-me os seguintes comentários, após a sua leitura e sem grande reflexão. Haverá com certeza interpretações diferentes. De qualquer das formas, os comentários seguintes, por anárquicos e desestruturados, não dispensam a leitura do texto – que é comprido e denso, mas oferece um prazer hermenêutico só comparável ao da leitura da bíblia.
Não se trata da dicotomia entre o visível e o invísivel, entre o sujeito anónimo e o sujeito heterodeterminado – mas sim de quem controla os termos da visibilidade. Porque visíveis são sempre eles assim que entram em contacto com as instituições produtoras do panóptico. A diferença entre a “festa da diversidade” e os controlos policiais reside em quem controla a estratégia de visibilidade. Se nos últimos, a visibilidade é imposta, portanto opera por uma estratégia de saliência étnica forçada, já no primeiro caso, a visibilidade é, supostamente, gerida pelas próprias minorias. A palavra que é estranhamente evacuada deste texto é “reconhecimento”. Sendo o reconhecimento a vertente ética da visibilidade dos cidadãos, dificilmente este é atribuível no espaço do anonimato. Sem dúvida, devemos a Bourdieu a capacidade de explicitar que o espaço público, longe de ser um espaço abstracto, é um espaço crivado de distinções; distinções essas que obrigam a um comportamento estratégico, mais ou menos consciente, consoante os cenários onde elas são activadas. Mais: o reconhecimento é a lógica sobre a qual se instaura a troca simbólica nas sociedades consumistas como as nossas.
Esta ideia que perpassa pelo texto – repetida até à exaustão por intelectuais como Pascal Bruckner – segundo a qual as “diferenças” são construídas, sobretudo pelo discurso científico e antiracista, possui o seu quinhão de verdade. Contudo, a diferença existe antes de mais no contacto imediato entre dois sistemas que são diferenciáveis. Por exemplo, quando um imigrante entra em contacto com uma instituição do estado da qual não domina a língua, a diferença é imediatamente salientada. Não é necessário o trabalho de categorização levado a cabo pelos antropólogos e antiracistas, como o texto parece indicar. Neste sentido, não é apenas a capacidade de coexistência que é construída a par e passo com as vivências sociais, não existindo nenhum guião pré-estabelecido e podendo estas, na sua arbitrariedade, redundar no confronto ou estabelecer ligações equilibradas. É também a categorização que é produzida nestes encontros, sem necessitar de grelhas categoriais apriorísticas. A cor da pele é um elemento que por mais desejo de invisibilidade que se tenha nesta utopia da “rua universal” dificilmente se consegue que passe despercebida. Ela está lá; funciona como um marcador; e como tal pertence a um sistema de atribuição de estatuto. Dizer que a “rua” funciona como o paradigma da indiferenciação surge como mitigação da empiria que, muito pelo contrário, tende a revelar sistemáticas diferenciações, umas mais organizadas e outras mais fragmentárias.
Em resumo, parece que esta ideia da imposição de categorias pelas autoridades esquadrinhadoras, se alicerça a contrario sensu numa concepção higienizada do espaço público – como se este fosse, pelas suas próprias propriedades um garante de neutralidade. Como se a neutralidade não fosse sempre a neutralidade da maioria, portanto a inversão dessa mesma naturalidade, a ideologia da neutralidade que se encontra sempre ameaçada pelas minorias e pela sua expressão nesse mesmo espaço público. Quando no fundo, o espaço público não é mais do que arena onde se luta pela definição legítima de neutralidade. A “rua” não é um cenário etológico onde as básicas características animais se revelassem na sua plenitude inata. Pelo contrário: a “rua” é um produto histórico, resultado de lutas pela sua ocupação e pelas formas legítimas de naturalização das condições dessas mesmas lutas. A visibilidade das minorias pode ser tanto sinónimo de “encerramento numa identidade”, prisão cultural que não deixa espaço para o indivíduo escolher (mas o que é esta escolha do indivíduo??) como de empowerment – reconhecimento de que existe uma identidade que precisa de lutar para ser reconhecida.
(cheguei ao texto pelo A Terceira Noite)

A morte do Sr. Seu pai...


Fico baralhado. Há diversos elogios à forma humana como a entrevista foi conduzida por Mário Crespo. A maneira sincera como Crespo, nas suas palavras, se tornou um confidente de Lobo Antunes confidenciando-lhe que estava apavorado. Lobo Antunes pergunta sorridente: Porquê? Um sorriso quase maternal a aflorar-lhe os lábios: deixa que a mamã te vai levar à injecção; não tenhas medo que é só uma pica...
O homem está sedento para discutir literatura. O brilho que lhe assoma à face quando se dispõe a dizer umas coisas sobre Conrad. Mas não. Literatura, qué lá isso? Interessa é o homem!, ou melhor "a persona" como Mário Crespo não se cansa de repetir.
Porque razão atemorizam as entrevistas com Lobo Antunes? Porque ele não quer falar dele e estão sempre a pressioná-lo para o fazer.
Quantas mais baboseiras se podem perguntar ao melhor escritor português sobre o ofício de escrever? Quantas mais banalidades sobre o pai e a relação com a família? Imaginam um entrevistador a sério a perguntar a Roth ou a Coeetze ou a Banville ou a Garcia Marquez, mas olhe, e tem medo? Claro que teve, pois, na guerra; mas e mais, tem mais medo? E zanga-se muitas vezes com deus? E ainda está zangado ou já fez as pazes? E paga a crédito ou a pronto? E quando mija, é pó ar ó é pa baixo? O Crespo, sabe que, eu desde que estive doente, já só mijo pa baixo. É os afectos, percebe. Os homens quando se aproximam da morte começam a mijar fininho. Ah, sim claro, isso está relacionado com a morte do Sr. Seu pai. Sabe, o senhor é nosso rei e a morte é indistinta: tanto mata baratas como rainhas. Pois, eu também tive um medo da morte em África que me borrei. Quatro anos, ham! Quatro anos de farnel aviado e ala pela brenha - os nativos, que gente maravilhosa. Não posso deixar de lhe perguntar, afinal pagam-me para isso: e o Saramago, acha que consegue mijar mais longe do que o Sr. Não sei, porra, só sei que Jesus Cristo é o Sr e que se acordo a meio da noite, sem ser pela tesão, mas à procura de uma vírgula - uma que seja, o meu reino por uma vírgula! - ao cabrão do Saramago isso não deve acontecer, porque o gajo semeia-as como quem asperge espermatezóides pa dentro de uma vagina. Engraçado, sabe o Sr quisso me faz lembrar o Pollock, o Jackson Pollock - esse aspergir anárquico. Ah sim, pois a mim faz-me lembrar cancro na próstata; como esse grande homem, o Viriato Sepúlveda, um homem do caneco; um filantropo - um homem só é homem quando puxa o autoclismo.
O meu nome é legião, o novo romance de Lobo Antunes. Não resisto a perguntar-lhe: sobre que fala o seu próximo romance? Qual? O que acabei de escrever há 2 dias, entre a consoada e a passagem do ano? Não, não: - o futuro; o inexistente; o vindouro; o que está por vir...
aguardo esperançadamente uma entrevista a Lobo Antunes sobre literatura. O homem é escritor, porra!
(o link na fotografia dá para a entrevista da SIC)

Wednesday, January 02, 2008

Aprender a suicidar-se na época do jornal das nove


Falava-se então de “literatura de ideias”. O termo mais correcto será o de romance-ensaio. E falava-se a propósito do dito “projecto literário” de G. M. Tavares. O meu interlocutor deixou cair uma frase plúmbea – com o peso do ecleticismo e sabedoria bibliotecários. Não recordo os termos exactos, mas continha “literatura de ideias”, continha esta expressão, a qual substituo pelo mais conveniente (parece-me) romance-ensaio. Vem este último a propósito de um livro de Vila-Matas que eu andava a ler, mas que me aborreceu; esse é um exemplo acabado de literatura de ideias, ou seja, de romance-ensaio. Ele próprio o afirma. Assim de repente, concebo duas formas de literatura de ideias aka romance-ensaio, ou, em alguns casos, novela ensaística. Um primeiro – que será o último cronologicamente – que usa e abusa do reenvio para obras, ideias, autores, reconhecidos e que apela à aura de consagração com que estes autores, ideias e títulos foram bafejados por um passado hermenêutico e crítico. Aqui, o autor procura sistematicamente levar o autor a subreptícias, ou nem tanto, identificações com uma dada escola, uma dada corrente, uma dada tradição. Encontram-se neste caso, entre muitos outros, mas estes são os que me ocorrem como paradigmas, os dois citados atrás: Villa- Matas e G.M.Tavares – salvaguardando, no entanto, as devidas distâncias. Não será por acaso que as referências de ambos confluem por vezes numa sintonia inesperada: a Europa central; os poetas realistas do Sturm und Drang; os mestres de Kafka, Walser e Musil – os continuadores da vertente germânica da cultura europeia.
Por outro lado, encontramos os próprios do Sturm und Drang com as suas novelas enxertadas de ideias, de filosofias aforísticas, de projectos pensantes. Goethe, Lenz e Buchner, Schiller, servem de exemplo. Talvez Buchner, com a sua novela Lenz, se aproxime mais da novela-ensaio do que qualquer outro; porém, o que são o Wilhelm Meister de Goethe ou Die Rauber de Schiller? Isto é um apanhado arbitrário, claro que sim. Mas percebe-se por exemplo o porquê de uma tão grande multiplicidade de referências, quase circulares, nos escritos de M. Tavares – a personagem Lenz, por exemplo.
O epígono maior desta tradição, porventura o mestre para a geração actual do romance-ensaio, da literatura de ideias, será Borges. Este, é inegável, encontra-se como esteio absoluto na literatura dos dois primeiros: M. Tavares e Vila-Matas. Só que, contrariamente a Borges, que ensaia ideias de forma romanesca, e que por isso teve, e continua ter, tão grande influência sobre as ditas ciências duras e, mais ainda, sobre a filosofia, os nossos contemporâneos da ensaística constroem enredos em torno da literatura, não de ideias. Ou então, as ideias, a existirem, são ideias literatas. É da brincadeira com as referências literárias que surgem enquanto ideias, no sentido em que se pode falar de ideias sobre literatura. As suas obras não são propriamente ricas em rasgos filosóficos; mais curioso, a filosofia onde se alimentam é anacrónica e daí retiram a sua indispensabilidade.
Este reiventar da tradição cultural da Europa central na Península, tem que se lhe diga. Daí que o “projecto literário” de M. Tavares, por heteróclito que seja, fascina e aborrece em simultâneo – ambas condições indecisas e periclitantes (mas sem perigo, como diz Steiner, não pode have génio na literatura). Fascina por que é um enxertar de uma tradição estranha na literatura lusa. E este estranhamento é tanto mais conseguido quanto é operado por uma superidentificação: M. Tavares grita aos quatro ventos que quer ser identificado com esta tradição, da qual, eventualmente, ele se considera um legítimo continuador. Aborrece, porque uma tal estratégia, quando repetida à exaustão, provoca a velha doença – mortal para os literatos desta mesma tradição; mortal para Lenz e para Werther –, a inexorável experiência do enui. É isso: com todo o seu brilhantismo, a sua referencialidade literata, o seu arrojo eclético, a exposição, a raiar o obsceno, desse mesmo arrojo, acaba por se esgotar no mais pesado enui. E se o enui se traduz, a mais das vezes, numa tendência suicidária, onde estarão os suicidas na época da “morte entre parêntises”?